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quarta-feira, novembro 19, 2008

Discriminação nas escolas e nos livros prejudica desempenho de alunos negros
Ao comparar a trajetória escolar de negros e brancos, as disparidades não se concentram apenas no acesso à universidade mas em todas as etapas do ensino.
Os negros são maioria no contingente de analfabetos do país - somando 9 milhões do total de 14 milhões e estão mais atrasados nos estudos do que o restante da população.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UnB (Universidade de Brasília), Nelson Inocêncio, a diferença no rendimento reflete uma escola e um sistema de ensino que não acolhe a população negra.'A escola diz que o grupo do outro [dos brancos] é a grande referência para a humanidade. Foi o grupo do outro que construiu, ele representa a civilização. E o meu grupo [negros] não representa nada. Isso é colocado de forma persistente nos livros, nas lições, e o aluno vai obter reações muito negativas em relação ao processo. Ele se pergunta: na medida em que a escola não me reconhece, que sentido faz eu estar na escola?', aponta.Em 2007, cerca de 85,2% dos brancos na faixa de 15 a 17 anos de idade, estavam estudando, sendo que 58,7% freqüentavam o nível médio, adequado a esse grupo etário. Já entre os pretos e pardos dessa faixa etária, 79,8% freqüentavam a escola, mas apenas 39,4% estavam na série correta.
A mesma conclusão está no Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Coordenado pelo professor Marcelo Paixão, o estudo compara, entre outros pontos, o desempenho de estudantes brancos e negros no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Em 2003, as notas em matemática e português dos alunos brancos eram, em média, 7,5% maiores do que a dos pretos e pardos.
'Isso sugere que para as crianças e adolescente pretos e pardos incidem obstáculos adicionais ao desenvolvimento dos estudos, representados pela discriminação racial presente nos espaços escolares', diz a pesquisa. Segundo o pesquisador, esse preconceito se manifesta de diferentes formas, desde atitude discriminatórias dos professores e colegas até livros didáticos que reforçam a invisibilidade dos negros, passando pelo conteúdo "antropocêntrico e pouco recepetivo à perspectiva da diversidade".
Luiana Maia, de 19 anos, aluna do curso de História da UnB (Universidade de Brasília) admitida pelo sistema de cotas, diz que o tratamento dos professores aos alunos negros é diferente daquele dispensado aos brancos. 'Ele já tem aquela concepção, ainda que inconsciente, do que é o negro. O cabelo da menina negra, por exemplo, é visto de forma diferente quando ela chega na escola com ele solto, mais arrepiado. A professora já pede para prender, fala para ter cuidado com piolho. Com a menina branca não é assim', lembra.
Para ela, o material didático também não é adequado. 'Os alunos negros não se sentem representados pelos próprios livros que usam. Ele se vê apenas no tronco, no açoite. O aluno só se vê na posição inferior, chega em casa abatido, aquilo impacta no desempenho', compara.
Humberto Borges, 18 anos, aluno do curso de Letras que também ingressou na UnB pelo regime de cotas, conta que quando era adolescente sempre representava o Lobo Mau na peça de fim de ano da escola.
'Até que no último ano entrou um outro aluno negro na minha turma e quando a gente foi montar a peça o professor questionou: e agora, quem vai ser o Lobo Mau? O Humberto ou o fulano? Só então que eu fui perceber a sutileza', conta.Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, a escola pública reproduz formas de exclusão que afetam diretamente a auto-estima do estudante e seu desempenho.'O desafio da escola hoje é formar todos, seja qual for a condição de chegada. A escola pública hoje, ainda que de maneira inconsciente ou mecânica, produz formas de exclusão muito dolorosas. Para aprender você tem que confiar que você consegue aprender', analisa.
Agência Brasil

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