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terça-feira, março 16, 2010

Jornalistas repudiam ataques de Magnoli




Jornalistas negros e anti-racistas dos Estados de Alagoas, Bahia, Paraíba, Rio, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e S. Paulo, divulgaram Nota em solidariedade aos repórteres Laura Capriglione e Lucas Ferraz, da Folha, acusados pelo sociólogo Demétrio Magnoli de praticarem jornalismo “delinqüente”, por terem reproduzido a intervenção do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) na Audiência Pública do Supremo Tribunal Federal, que discutiu as Ações Afirmativas e as cotas.

O senador goiano disse que as mulheres negras haviam consentido nos estupros e responsabilizou os negros pela escravidão, o que provocou a revolta e a indignação dos presentes, em especial das mulheres negras, que ameaçam acioná-lo judicialmente.

Demétrio saiu em defesa de Demóstenes e atacou os repórteres em artigo publicado na Folha, na edição da última segunda-feira (08/03). A Nota, segundo Miro Nunes (foto), da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio, foi enviada à direção do Jornal e aos repórteres alvo dos ataques de Magnoli.


Ideológos do medo

“O debate no STF mostrou o que muitos veículos de comunicação, inspirados nos "ideólogos do medo”, não tornavam público. Os profissionais de comunicação enfrentam agora o desafio de investigar a realidade étnico-racial do país e revelar os efeitos de processos racistas históricos e estruturantes, que impedem a inserção de negros e negras no ambiente universitário. A sociedade brasileira exige informação qualificada sobre o assunto e deseja conhecer a opinião dos dois lados desta discussão. Seja ela qual for”, afirmam os jornalistas, integrantes das Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial desses Estados (Cojiras), Núcleo de Jornalistas Afrodescendentes do Rio Grande do Sul e Comissão Nacional de Jornalistas pela igualdade Racial, ligada a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj).

Segundo a Nota “a audiência pública no Supremo Tribunal Federal tornou insustentável o posicionamento de algumas redações, que até então se negavam a procurar fontes qualificadas sobre as ações afirmativas no ensino superior, inclusive reitores e coordenadores de processos seletivos que atestam a relevância do sistema”.

Veja, na íntegra a Nota dos Jornalistas negros e anti-racistas

Nota de solidariedade aos jornalistas da Folha de S. Paulo

As comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras), ligadas aos sindicatos da categoria, vem a público repudiar o ataque sofrido pelos repórteres Laura Capriglione e Lucas Ferraz, autores de reportagem publicada na Folha de S. Paulo sobre a audiência pública realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir as políticas públicas de ação afirmativa e reservas de vaga no ensino superior.

Em artigo publicado no mesmo veículo, os jornalistas foram acusados pelo sociólogo Demétrio Magnoli de agir na “linha da delinquência” ao tratar de pronunciamento feito pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Em seu discurso contrário às cotas no STF, o parlamentar afirmou que os africanos foram co-responsáveis pelo tráfico de escravos e minimizou a violência sexual sofrida por mulheres negras.

“[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual."

As Cojiras entendem que os jornalistas da Folha de S. Paulo atuaram de maneira responsável no livre exercício da profissão, reportando de maneira fidedigna o pronunciamento feito pelo senador do partido Democratas no STF. A reação à matéria jornalística por meio de artigo opinativo beira à intimidação e torna evidente o esforço de alguns intelectuais para justificar qualquer incoerência de quem se opõe às ações afirmativas no Brasil.

Estudos feitos pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) são contundentes em mostrar que a maior parte dos grandes veículos de comunicação, em editoriais e reportagens, tem se posicionado de maneira contrária às cotas, estigmatizando negativamente pesquisadores e ativistas favoráveis ao sistema recomendado pelas Nações Unidas (ONU).

A audiência pública no Supremo Tribunal Federal tornou insustentável o posicionamento de algumas redações, que até então se negavam a procurar fontes qualificadas sobre as ações afirmativas no ensino superior, inclusive reitores e coordenadores de processos seletivos que atestam a relevância do sistema.

O debate no STF mostrou o que muitos veículos de comunicação, inspirados nos "ideólogos do medo”, não tornavam público. Os profissionais de comunicação enfrentam agora o desafio de investigar a realidade étnico-racial do país e revelar os efeitos de processos racistas históricos e estruturantes, que impedem a inserção de negros e negras no ambiente universitário. A sociedade brasileira exige informação qualificada sobre o assunto e deseja conhecer a opinião dos dois lados desta discussão. Seja ela qual for.

Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras) do Distrito Federal, Alagoas, Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro(capital) e São Paulo// Núcleo de Jornalistas Afrodescendentes do Rio Grande do Sul, todos ligados aos sindicatos de jornalistas locais. Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conjira), ligada à Fenaj.
FONTE: AFROPRESS

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