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sexta-feira, março 26, 2010

A memória de 1968








Poucos ex-estudantes do “ano que não terminou” compareceram no último sábado, 20, para prestigiar a iniciativa da prefeitura da Estância Turística de Ibiúna, uma cidade com aproximadamente 65 mil habitantes dos quais um terço apenas vive na zona urbana, na inauguração de um monumento que homenageia os mais de 700 estudantes presos ali em 1968. Naquele ano, essa ainda pacata cidade foi palco de um evento que marcou a vida política nacional: a realização do 30º Congresso da então clandestina União Nacional dos Estudantes, a UNE.


O monumento segue o padrão do que existe em Arlington, na Virgínia, EUA, em uma escala infinitamente menor. Trata-se de um muro construído para receber o que existia no Memorial da Resistência, localizado no antigo prédio do DEOPS (Delegacia Estadual de Ordem Política e Social), que abrigava os presos políticos: uma relação com o nome de (quase) todos os estudantes presos durante a realização do 30º Congresso da UNE e dois blocos de fotografias dos 23 participantes que, posteriormente, foram assassinados pelo regime militar. (Alguns nomes foram esquecidos como o do médico Luís Carlos Betarello).


A ideia original foi do secretário de Cultura e Turismo, Mauro Issler, e imediatamente encampada pelo prefeito Coiti Muramatsu. É mais uma tentativa de atrair turistas e ao mesmo tempo resgatar essa passagem que enche de orgulho boa parte de população mais esclarecida da cidade.


Durante a cerimônia, dona Neuza, viúva de Domingos Simões, proprietário do sítio onde os estudantes se reuniram, reivindicou que a memória de Simões fosse também incluída na homenagem uma vez que toda sua família foi presa e perseguida por muitos anos depois.

O evento foi modesto. Nenhuma autoridade presente, muito embora os governos da União e de São Paulo possuam em seus quadros vários assessores que foram presos naquele episódio como Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social, e Aloísio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil do governo do estado de São Paulo, por exemplo. Eles sequer enviaram representantes. Nem estrelas como o deputado cassado José Dirceu Oliveira e Silva e Vladimir Palmeira, ex-deputado e maior liderança estudantil em 1968.

Um pouco de história

O movimento estudantil, em 1968, representava a maior força que se opunha à ditadura militar que vigia desde 1964. Passeatas nas ruas, ocupações de universidades, confrontos com a polícia, dois congressos nacionais clandestinos realizados com sucesso em 1965 e 1967, em Belo Horizonte e Valinhos (SP) respectivamente, são algumas marcas que incomodavam profundamente os militares que dirigiam o país. Às vésperas da realização do 30º. Congresso, um confronto entre estudantes das universidades Mackenzie e USP resultou na morte do secundarista José Guimarães, que defendia a escola pública, e a invasão e destruição da Faculdade de Filosofia da USP por policiais civis e militares, que contaram com o apoio dos estudantes do Comando de Caça aos Comunistas.


O Congresso da UNE estava programado para ser realizado nos dias 9, 10 e 11 de outubro. Porém, no sábado, 12, às 7 horas da manhã, os estudantes se preparavam para tomar café antes de participar da primeira reunião plenária que daria início aos trabalhos, quando ouviram rajadas de metralhadora. O local estava cercado por policiais civis e militares. Foram presos 720 estudantes. Dois meses depois, em 13 de dezembro, era decretado o AI 5 – Ato Institucional 5 que marcaria o início da mais longo período obscurantista do Brasil no século passado

FONTE: REVISTA FÓRUM/Paulo de Tarso Venceslau

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