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terça-feira, março 30, 2010

O Império do Amor, do baile funk e da cerveja













Nas últimas semanas, as notícias envolvendo a vida do jogador do Flamengo Adriano Imperador tomaram conta dos principais meios de comunicação do país. A briga selvagem com a sua então namorada, agora noiva, Joana Machado, na favela da Chatuba, Rio de Janeiro, tornou público o suposto envolvimento do jogador com traficantes.

A partir daí, a vida pessoal de Adriano foi desnudada. A discussão saiu definitivamente dos gramados e ganhou as capas das revistas de fofoca e dos artistas da Globo. Até mesmo o número exorbitante de multas na carteira de motorista do jogador foi revelado.

A novela ganhou novos personagens, e o elenco rubro-negro foi pego de conjunto. Vagner Love foi “flagrado” sendo escoltado por homens armados na entrada de um baile funk na favela da Rocinha. E Willians trocou socos e pontapés com os seguranças de uma churrascaria na zona norte da cidade.

José Geraldo Couto, colunista da Folha de S. Paulo, foi muito feliz quando afirmou que “condena-se Adriano não tanto por trocar socos com a namorada, mas por fazê-lo no morro da Chatuba, e não numa cobertura na Barra da Tijuca ou num palacete em Milão”. E depois continua: “O viés de classe nunca ficou tão evidente, aliás, como quando o jogador, um ano atrás, deixou de se reapresentar a seu clube, a Internazionale de Milão, e se refugiou durante três dias no bairro onde se criou, no Rio de Janeiro. A perplexidade foi geral, na imprensa e no mundo futebolístico”.

A mídia tenta a todo custo impor um padrão social e comportamental aos jogadores de futebol e às celebridades em geral. Busca retirar-lhes suas características plebeias de origem e moldá-los a sua imagem e semelhança. É inadmissível que astros que geram milhões de euros sejam frequentadores assíduos de bailes funk. Seguramente, se Adriano e Vagner Love frequentassem os círculos da alta sociedade, onde a burguesia se confraterniza em festas regadas de wisky, cocaína e prostitutas, não seriam sidos “flagrados”, mas sim convidados ilustres ao evento e tirariam fotos ao lado de celebridades, empresários, juízes, políticos corruptos e mafiosos de todo tipo.

Do lado oposto de Adriano, encontra-se Kaká, que cumpre com todas as etiquetas da elite e atende as expectativas do mercado. Bom moço, branco, responsável, casado, cristão, poliglota e oriundo do Morumbi, bairro nobre de São Paulo. É o jogador modelo, exaltado e protegido pela mídia, que serve de exemplo para os irreconciliáveis.

Kaká segue a igreja Renascer em Cristo, que explora a ignorância e o desespero dos fiéis, sob a promessa da salvação e um lugar no reino dos céus. Como se isso fosse pouco, os fundadores da igreja, Estevam e Sonia Hernandes, foram presos em Miami por terem entrado nos EUA sem declarar US$ 56 mil. Na ocasião, Kaká deu a seguinte declaração: “Sou radical em relação ao que acredito. Apesar de tudo, continuo membro da Renascer. Conheço os bispos e, para mim, eles sempre foram boas pessoas”. Mas nada disso mancha a imagem do camisa 10 da seleção brasileira.

Antes de defenestrar Adriano, a mídia tentou por todos os meios domesticá-lo, adequá-lo e assimilá-lo. Romantizou seu retorno à favela da Vila Cruzeiro e explorou sua infância pobre e sua trajetória meteórica. O Imperador foi símbolo do brasileiro que não desiste nunca, que venceu na vida, através de muita dedicação ao trabalho, esforço e perseverança. Afinal de contas, quem disse que um negro favelado não pode subir na vida? Basta aproveitar as oportunidades a acreditar em deus.

Agora Adriano está no banco dos réus, por não ter aproveitado a chance que a mídia lhe deu para se redimir e romper com sua origem de classe. O Imperador se desvalorizou enquanto mercadoria. Descobriram seu alcoolismo e sua insensatez nas relações amorosas.

Não podemos retornar aos tempos, que o futebol era um esporte das elites, porque as amplas massas populares já o abraçaram. Ou, pior, quando os jogadores negros do Fluminense se maquiavam com pó-de-arroz para esconder a cor de sua pele. Mas devemos ficar atentos a todo tipo de discriminação social e racial dentro e fora das quatro linhas.
FONTE: OPINIÃO SOCIALISTA

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