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terça-feira, abril 06, 2010

Três meses após tragédia de Angra, Rio recicla explicações para deslizamentos








Históricas ocupações irregulares em encostas. Chuvas acima do esperado. Falta de infraestrutura para suportar grandes tempestades. Herança maldita de gestões anteriores. A culpa, em última análise, é dos moradores que se instalaram ali, porque o poder público não pode contê-los. Essas são algumas das justificativas dadas pelo governador do Rio de Janeiro e pelo prefeito de Angra dos Reis para a tragédia que abateu a cidade do litoral sul fluminense no início deste ano. Nesta terça-feira (6), novas tormentas fatais fizeram a cantilena de três meses atrás ressurgir.


Mais de 80 mortes foram confirmadas até a tarde desta terça no Estado do Rio de Janeiro por conta de deslizamentos de terra após a chuva que começou na noite de segunda-feira. A maioria das vítimas, de acordo com informações oficiais, vivia em áreas de risco. Na capital, houve desabamentos no Andaraí, no morro do Borel (Tijuca), no morro da Mangueira, em Santa Tereza, no morro dos Macacos (Vila Isabel) e no morro do Turano (zona norte). Também há relatos de deslizamentos em Petrópolis, na região serrana, e em Niterói.


Assim como no caso da cidade do sul fluminense, o governador Sérgio Cabral (PMDB), repetiu o discurso que fez na primeira tragédia do ano no Estado: ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Eduardo Paes fazem esforço conjunto para resolver problemas acumulados há décadas e investir em políticas de ocupação urbana. Mas os moradores não colaboram ao se instalarem em áreas de risco de deslizamento. Foi esse o caso de parte das 53 pessoas que morreram em Angra no início do ano.


Há quase 100 dias, ao falar em Angra, o governador afirmou: "Não podemos ocupar os nossos morros dessa maneira irresponsável que estamos fazendo. Solo urbano é um problema de todos. Não se pode brincar com o solo”. Em seguida, lembrou que R$ 100 milhões foram investidos em equipamentos para o Corpo de Bombeiros. Depois, ressaltou que 20% do valor de um fundo foi utilizado em contenção de encostas.


Nesta terça-feira, o tom foi o mesmo: “Temos que fazer uma conscientização de que a demagogia da construção irregular levou a essa situação”, afirmou Cabral à “Globonews”. “Quando dissemos que construiríamos um muro na favela da Rocinha, íamos garantir a vida das pessoas. Não é possível a construção irregular continuar. Se você pegar essas pessoas que morreram, quase todas estavam em áreas de risco.”


A união de todos os níveis de governo também foi lembrada por Cabral nesta terça-feira, como foi em Angra dos Reis. Um levantamento do site “Contas Abertas”, no entanto, apontou em janeiro que apenas 1% dos recursos federais dedicados a prevenção de desastres tinha ido para o Estado do Rio de Janeiro. Após a tragédia em Angra, o Palácio do Planalto bancou uma Medida Provisória para enviar em caráter emergencial cerca de R$ 130 milhões a cidades fluminenses afetadas pelas chuvas.


Maior da história

Na época do incidente em Angra, Cabral e o prefeito Tuca Jordão, ambos do PMDB, afirmaram que as chuvas tinham sido as maiores da história na região e que a nenhuma cidade teria estrutura para aguentar o tanto de água que caiu. Desta vez, mudou apenas o prefeito. “Foi o maior volume de chuvas relacionadas a enchentes já registrado em nossa cidade”, afirmou Paes.


Entre as soluções para as moradias perdidas com o desastre, conforme indicou o secretário estadual da Habitação, Jorge Bittar, no início do ano, deve ser a mesma anunciada para Angra: a concessão de aluguéis sociais a habitantes de áreas de risco e a inclusão de novos projetos no programa federal “Minha Casa, Minha Vida”, cujas verbas são liberadas apenas depois de apresentação de projetos claros.


No caso de Angra, a área de maior risco era o Morro da Carioca, ocupado irregularmente desde os anos 60 e que terá moradores realocados com a ajuda do aluguel social ou a previsão de inclusão no “Minha Casa, Minha Vida”, em regiões mais afastadas da cidade. Na ocasião, o governo do Rio de Janeiro considerou as medidas exemplares e defendeu que elas fossem aplicadas no caso de novas tragédias.


Desta vez, ao contrário da situação de Angra, o presidente falou sobre o assunto logo no primeiro dia da tragédia. Ele estava no Rio de Janeiro para participar de um ato que acabou cancelado e falou a jornalistas antes de uma reunião com membros do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).


“O mais importante nessa história toda é que precisamos conscientizar a população para que deixe as áreas de risco, principalmente os que moram em encosta de morro e em áreas sujeitas a deslizamento. Que vá para a casa de parentes ou de amigos e espere a chuva passar, o que não é fácil. Só pode melhorar de vida quem estiver vivo”, afirmou Lula.


Além das declarações públicas das autoridades nos dois casos, o descaso histórico também é o mesmo no caso dos morros cariocas e dos angrenses. Nem a Marinha, antiga gestora de Angra, nem governadores e prefeitos lidaram com o problema até os deslizamentos do início deste ano. Na capital, um dos focos da tragédia desta semana, o morro da Mangueira, na zona norte, é ocupado desde meados do século 19.


Fica a cerca de 9 km do palácio onde Sergio Cabral trabalha e a menos de 5 km do prédio do prédio onde Eduardo Paes despacha.

FONTE: UOL/NOTÍCIAS

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