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quarta-feira, setembro 01, 2010

100 anos de exposição : Ser corintiano nunca foi fácil





Mas em 2010 não sê-lo deve estar sendo tão ou mais difícil




Partidos, religiões, clubes de futebol. Com eles, não tem meio-termo: quem é, é, e os defende até a morte. Quem não é (a turma dos “anti”), contesta-os. Entre todas essas filosofias – do fascismo ao socialismo, do cristianismo ao islamismo –, peço licença para destacar a minha, que no dia 1º de setembro de 2010 completa seu primeiro centenário: o corintianismo.

Pronto: garanto que a essa altura grande parte dos leitores acaba de encher o peito de orgulho. Em contrapartida, outra parte deve estar fazendo muxoxo. Os mais xiitas devem ter fechado a revista. Tudo bem, eu banco o risco.

Segundo todas as pesquisas feitas até hoje sobre o número de torcedores (ou “adeptos”, como mais propriamente definem os portugueses, principalmente quando essa expressão se refere ao Corinthians), a possibilidade de eu continuar escrevendo para ninguém é absolutamente nula. Vamos em frente.

São 100 anos de exposição, desde que o Sport Club Corinthians Paulista, então um pequeno time de bairro, foi fundado à luz de um lampião por operários do Bom Retiro. Tem sido sempre assim, do boca a boca das esquinas quando a equipe começou a se destacar, ainda na várzea paulistana, em 1910, à audiência de milhões de pageviews por conta da volta do Fenômeno Ronaldo, já na era da internet.

Como acontece com todas as coisas que realmente fizeram diferença na história da humanidade (para o bem ou para o mal), o Corinthians provoca reações, mas não indiferença.

Para o corintiano, isso tem sido uma grande carga. Telefone, e-mail e endereço de corintiano todo mundo tem. São públicos, não há como se esconder, até porque nos momentos de maré alta é ele, o corintiano, o primeiro a entrar em contato com seus detratores. Facilmente identificável por não conseguir conter essa paixão, ele está sujeito aos extremos da exposição.

Subiu aos céus quando foi campeão do centenário da Independência, em 1922, e de São Paulo (o quarto), em 1954. Com o gol de Basílio que valeu a reconquista do título de campeão paulista em 1977. Quando o obscuro (para quem não é corintiano) Tupãzinho fez o gol que valeu a conquista do primeiro Campeonato Brasileiro, em 1990, contra o São Paulo. Com o título de campeão do primeiro mundial de clubes organizado pela Fifa, em 2000.

Mas desceu ao inferno principalmente no período de 22 anos, oito meses e uma semana sem erguer uma taça, de 6 de fevereiro de 1955 a 13 de outubro de 1977. Ou quando foi rebaixado para a segunda divisão do Brasileiro, em 2007.

Raros, nesses 100 anos, foram os momentos de quase unanimidade em torno do Corinthians. O mais recente deles, a união nacional em torno do ídolo Ronaldo (teve até palmeirense simpatizando com o gol que marcou seu retorno ao futebol, em cima do próprio Palmeiras).

O mais sintomático, a experiência da Democracia Corinthiana, que entre 1981 e 1984, liderada pelo jogador Sócrates, pretendia mudar a arcaica estrutura organizacional do futebol brasileiro enquanto o Brasil também buscava seu rumo na redemocratização. Ainda assim, tinha democrata de carteirinha do outro lado. “Se hay Corinthians, soy contra”, diziam.

Nesses dias que antecedem o centenário, tenho feito um exercício: colocar-me no lugar daqueles que não são corintianos. Constato o quão deve estar sendo difícil para eles. Deve ser duro para o anticorintiano ver seu espaço ainda mais invadido no rádio, nos jornais, na TV, e até nesta página, com esse assunto. O que resta, então?

Desdenhar, como sempre. Lembrar que a Libertadores, o sonho maior de 2010, foi perdida, e que este ano corre o risco de ser o do “sem ter nada”, no mesmo infame trocadilho utilizado pelos rivais quando o Flamengo, em 1995, o Sport Recife, em 2005, o Atlético Mineiro, em 2008, e o Coritiba, em 2009, também passaram em branco ao completar um século.

Entendo a apreensão de quem não é. Mas não consigo deixar de externar uma última observação: pobres mortais. Não sabem que fenômenos como o Corinthians não são por 100 anos, são para sempre.

FONTE: Rede Brasil Atual/ Celso Unzelte é jornalista e escritor, autor de vários livros sobre futebol, como Almanaque do Timão e Almanaque do Palmeiras, e apresenta o programa Loucos por Futebol, da ESPN Brasil



HOMENAGEM DO BLOG AO CENTENÁRIO DO CORINTHIANS

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