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sexta-feira, outubro 14, 2011

Leon Cakoff * - Liberar ou não a maconha










Tive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentado pacientemente ao meu lado, esperando o final de mais uma sessão do filme polêmico 'Quebrando o Tabu', de Fernando Grostein Andrade. Ele acumula até o momento a cifra surpreendente de 25.978 espectadores. Todas as sessões do filme estavam lotadas no Unibanco Arteplex. Sinal do grande interesse pelo tema. Sua estreia foi em 30/5, com 14 semanas de exibição e a cifra acumulada de 1300 pessoas em um único cinema com nove salas.

Só queria aproveitar a oportunidade para fazer ao ex-presidente uma pergunta particular e muito pertinente ao tema do debate: afinal o que teria vindo primeiro? O ovo ou a galinha? A pergunta pegou o presidente de surpresa. Mas corrigi a tempo a minha curiosidade. Foi evidentemente uma provocação. Mas reparei a tempo a minha curiosidade. Queria polemizar também o tema à distância. E o que teria vindo primeiro? A semente ou a maconha? Liberar ou não a maconha? Condenar com mais severidade, como ainda acontece aos milhares de condenados por juízes por todo o país? A realidade atual brasileira é um dos principais flagelos sociais e ainda sem saída, independentemente das posições sobre este complexo debate.

Foi a segunda parte da minha questão particular. A história se perde no passado da antiguidade, dos rituais, dos povos indígenas, dos entorpecentes há muito consagrados, dos cipós, dos segredos das florestas. O debate não deixa a questão encerrada. Há também muitas questões que passam por traficantes soltos e com as benesses de corruptos em liberdade a todas as conveniências.

Outras liberdades são consentidas com as piores consequências: os drogados abandonados hipocritamente em grandes centros urbanos e já disseminados nas pequenas cidades, com toda sorte de repertórios pesados, do crack, a cocaína, o ópio, a heroína, e os produtos de química sintética.

Mas, afinal, o que quer esta humanidade? Liberdade para estourar os miolos como quiser e sem censura? Faltou talvez também falar da questão mais sedutora, envolta em liberalidade, mas igualmente hipócrita, que é o das liberdades consentidas nos herbanários cultivados com vigilância (?) como nos "coffe shops" da Holanda. Por fim, faltou mencionar o tráfico descontrolado da grande indústria internacional e sem fronteiras que elege todos os paraísos fiscais por onde se batizam este glossário dos diabos.

Não há mais no mundo drogas inocentes e sem manchas de sangue em um de seus percursos. Esta pode ser a principal mensagem do grande filme pautado na altura e na sabedoria de um grande presidente na altura dos seus 80 anos de vida.

*O crítico Leon Cakoff, fundador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, morreu hoje, às 13h, no hospital São José, em São Paulo. Ele tinha 63 anos e, desde dezembro do ano passado, lutava contra um câncer.

FONTE: FOLHA.COM

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