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sábado, dezembro 10, 2011

Defesa Civil prepara o mapa da estiagem no Rio Grande do Sul

















Levantamento preliminar indica que 91% dos municípios foram prejudicados pela falta de chuvas na última década

Para dar uma dimensão dos prejuízos e identificar as áreas que mais sofrem com a falta de água, a Defesa Civil do Estado realiza levantamento inédito sobre o trajeto da estiagem no Rio Grande do Sul. Entre os dados preliminares está o de que 453 municípios, 91% do total do Estado, foram afetados pela baixa precipitação na última década. A região mais atingida no período foi a Metade Sul, com destaque para Bagé, Dom Pedrito e Aceguá, na Campanha.

Neste ano, a falta de água já traz problemas, principalmente para a Região Metropolitana. Neste sábado, o Consórcio Pró-Sinos removeu quase 4 mil peixes de área mais crítica do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, até a Prainha, em Sapiranga, em função da péssima qualidade da água.

O coordenador em exercício da Divisão de Convênios da Defesa Civil, Delamar Jobim, responsável pela pesquisa, informa que as ocorrências das estiagens são as mais frequentes no Estado - representam 48% do total -, se for feita comparação com as enchentes e os vendavais. Outra conclusão do levantamento preliminar é a sazonalidade em que a estiagem se dá no território gaúcho, com períodos em que a mudança climática é mais acentuada. Por exemplo, entre 2004 e 2005, quando o Estado viveu uma das suas piores secas, e nos dois anos seguintes a crise foi amenizada.

O secretário estadual de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano, Luis Carlos Busato, ressalta que o fenômeno já faz parte do Rio Grande do Sul e dificilmente essa condição vai mudar. "Na última década, enfrentamos oito secas e estamos prevendo que em 2012 o Estado passará por uma das suas piores estiagens e teremos que buscar fazer o máximo para amenizar os prejuízos. Agora, temos que atuar na prevenção", afirma ele, tendo como base regiões que já estão começando a ser afetadas, como a Campanha e o Vale do Sinos.

Em São Leopoldo, na Rua da Praia, que passa ao lado da margem do Sinos, o nível está mais baixo. É possível ver peixes mortos e outros agitados em busca de oxigênio. Isso deve-se à redução de água e à poluição. Para amenizar, foram instalados três aeradores - equipamentos que servem para fazer com que a oxigenação seja maior. Na manhã deste sábado, integrantes do Consórcio Pró-Sinos promoveram a transferência de peixes. Eles foram retirados de trecho onde o Rio dos Sinos estava abaixo do ideal e com pouca oxigenação para áreas mais altas.

Busato reconhece que o Estado avançou muito na área da prevenção à estiagem a partir da criação de uma secretaria especial na gestão anterior. Apesar disso, diz que ocorreram poucos avanços efetivos. Destaca que neste ano foram construídos 450 açudes que beneficiam em especial pequenos agricultores de 90 municípios. O investimento foi de R$ 4,9 milhões. Isso foi possível por meio de uma parceria, em que o Estado é responsável por 80% do custo da obra e o agricultor pelo restante. Atualmente, estão sendo construídos mais 302 açudes, em 56 municípios, com investimento de R$ 3,3 milhões. Ainda em dezembro, começará o processo de licitação para outros 433 em 105 cidades, somando R$ 11,5 milhões. Para incentivar agricultores, o governo, por meio do Banrisul, disponibilizará linha de financiamento. A expectativa do secretário é que sejam construídos 2 mil açudes por ano.

Meio ambiente sofre com a seca

Engana-se quem pensa que a estiagem provoca apenas problemas econômicos e de abastecimento. A queda no nível dos rios atinge drasticamente o meio ambiente. Isso deve-se a um efeito em cadeia que ocorre quando há seca. O coordenador executivo do Instituto Martim Pescador, Pedro Teixeira, explica que a estiagem faz com que a água fique em um volume menor, dificultando a captação para o consumo. E quando isso ocorre é necessário utilizar substâncias para purificá-la.

Além disso, com o nível mais baixo, a presença de lixo fica mais evidente. E, como não é arrastado pela correnteza, acaba se prendendo no fundo. Outra situação complicada é em relação à concentração do esgoto. "Imagine se diariamente são despejados 100 litros de esgoto em mil litros de água do rio. Porém, com a seca, os 100 litros de esgoto são jogados em 500 litros de água. Assim, a concentração é muito maior e o nível da qualidade cai muito", compara Teixeira.

Essa situação reflete diretamente na qualidade da água para os peixes. A estiagem faz com que eles tenham mais dificuldade em respirar. Muitos morrem.

No trecho do rio Gravataí, na divisa entre Porto Alegre e Canoas, o cenário é de tristeza. A água chega a estar quase preta, em função da quantidade de impurezas. Há lixo em praticamente toda a extensão. Além disso, o mau cheio é forte em função da poluição. Quem trabalha ou mora próximo enfrenta dificuldades e vê com desalento a situação do manancial, que mais parece um valão. É grande também a quantidade de peixes que não conseguem sobreviver no Gravataí e, depois de mortos, ficam boiando nas águas.

População mais consciente

Em São Leopoldo e Novo Hamburgo, a queda acentuada no nível do Sinos deixa em alerta as autoridades e já obriga a aplicação de medidas cautelares, como o racionamento. Os gestores temem que sejam necessárias ações mais drásticas caso o volume de chuvas não aumente.

Equipes da Prefeitura de Novo Hamburgo percorrem as casas para orientar a população. "O consumo geral está menor do que a média para esta época", ressalta o prefeito Tarcísio Zimmermann. Ele reconhece que há a possibilidade de atitudes mais severas, como a tarifação extra.

Zimmermann aponta que o racionamento, que começou a ser adotado no final de novembro, é uma maneira de evitar o agravamento da situação. Uma das ações é o desligamento rotativo no fornecimento. A cada cinco dias, um dos setores - a cidade foi divida em dois - fica sem abastecimento das 22h às 4h. "Queremos manter a regularidade dos reservatórios." Mas a medida que tem surtido maior efeito é a conscientização em relação ao consumo de água. "O maior volume é referente aos gastos pessoais e residenciais. Gestos como fechar a torneira e evitar banhos demorados podem trazer benefícios consideráveis."

Segundo o coordenador executivo do Instituto Martim Pescador, Pedro Teixeira, a preocupação com o nível do Sinos não é recente. "Podemos definir que esse rio é muito guerreiro e tem sobrevivido apesar da poluição e da estiagem", constata. O espanto é ainda maior entre os estudantes que participam das atividades educativas. "Sempre explicamos a importância de utilizar conscientemente a água e também não polui-la. Ver o rio desse jeito é a prova de que não estamos fazendo o suficiente", alerta.

Fonte: Mauren Xavier / Correio do Povo

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