Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

terça-feira, maio 31, 2011

Descoberta da Aids completa 30 anos




O vírus HIV já provocou 30 milhões de mortes e mobilizou os médicos de todo mundo



A aids, uma doença ainda sem cura, foi descoberta há trinta anos e já provocou 30 milhões de mortes, transformou o mundo, gerou um investimento financeiro exemplar, uma mobilização de larga escala e avanços médicos espetaculares.

Há três décadas, no dia 5 de junho de 1981, o Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos, descubriu em cinco jovens homossexuais uma estranha pneumonia que até então só afetava pessoas com o sistema imunológico muito debilitado.

Um mês depois, foi diagnosticado um câncer de pele em 26 homossexuais americanos e se começou a falar de "câncer gay". No ano seguinte, a doença foi batizada com o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Sida), em inglês Aids.

Em 1983 uma equipe francesa isolou o vírus transmitido pelo sangue, secreções vaginais, leite materno ou sêmen, que ataca o sistema imunológico e expõe o paciente a "infecções oportunistas" como a tuberculose ou a pneumonia.

Estes 30 anos também foram uma época de grandes êxitos contra o vírus. Em 1996, com o desenvolvimento dos anti-retrovirais, a doença mortal passou a ser uma enfermidade crônica. O Fundo Mundial, criado em 2002, já distribuiu 22 bilhões de dólares em subsídios e um "programa de urgência" foi organizado nos Estados Unidos. "A Aids mudou o mundo; uma nova relação social foi criada entre os países do norte e do sul de maneira que nenhuma outra doença havia provocado", destacou Michel Sidibé, diretor da ONUAIDS.

À sua maneira, os doentes participam também da luta e se transformam em "pacientes experts", que relatam aos especialistas sua experiência, definem as necessidades e anotam os efeitos indesejáveis dos tratamentos, segundo Bruno Spira, presidente da associação Aides.

A Aids tem matado menos, no entanto ela não desaparece. Pelo contrário, o número de pessoas infectadas tem aumentado nos últimos anos, exigindo mais pesquisas, mais tratamentos e mais dinheiro. Por enquanto, apenas uma em cada três pessoas que necessitam de tratamento tem acesso às drogas. Ainda pior é que para cada duas pessoas que iniciam o tratamento, cinco outras pessoas são contaminadas.

Os esforços agora são direcionados para a prevenção com novos métodos: a circuncisão, que segundo pesquisas ainda não conclusivas podem diminuir as chances de contágio; um gel microbicida para as mulheres e o tratamento dos doentes que diminui em mais de 90% as chances de transmissão do vírus. No entanto, mesmo com 30 anos de pesquisas e muitos investimentos, ainda não há cura e a Aids está longe de ser vencida.

Sem contar o fato que, segundo o Fundo Mundial, os financiamentos previstos para os próximos anos são claramente inferiores às necessidades.Além disso, dois terços dos soropositivos no mundo desconhecem a própria doença e disseminam o vírus. Na França, por exemplo, uma pesquisa revelou que 18% dos clientes de bares e saunas gays estão contaminados e 20% destes desconhecem.

Socialmente, a Aids ainda é uma doença pouco comum, e muitos preferem ignorá-la. "Ainda assim, como há 30 anos, é difícil reconhecer uma 'doença vergonhosa', que não quer ser discutida mostrada falada e examinada", diz Bruno Spire, também portador do HIV."A Aids foi a maior epidemia do século XX e é a maior do século XXI", afirma por sua vez o professor Jean-François Delfraissy, da Agência de Pesquisa sobre a AIDS.
FONTE: saude.ig

Leia mais:

No Dia Mundial de Combate à Aids, saiba mitos e verdades sobre a doença

http://guebala.blogspot.com/2009/12/no-dia-mundial-de-combate-aids-saiba.html

segunda-feira, maio 30, 2011

Suplicy: Brasil precisa debater a descriminalização da maconha

Ao comentar em Plenário reportagem exibida no domingo (29) pelo programa Fantástico, da TV Globo, sobre o documentário Quebrando o Tabu, em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros ex-presidentes de países latino-americanos e dos Estados Unidos defendem a descriminalização do uso da maconha, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) convidou a sociedade brasileira e o Congresso Nacional a discutir o assunto.

- Creio ser chegado o momento de o Parlamento discutir o assunto, numa série de audiências públicas, com especialistas contrários e favoráveis à descriminalização, além de estudarmos os exemplos de outros países para, juntamente com toda a população brasileira, decidirmos o caminho que o Brasil deve adotar com relação à descriminalização - disse, em discurso nesta segunda-feira (30),

Sobre o documentário Quebrando o Tabu, Suplicy destacou o fato de Fernando Henrique, juntamente com os ex-presidentes do México, Ernesto Zedillo; da Colômbia, César Gaviria; e dos Estados Unidos, Jimmy Carter e Bill Clinton, terem reconhecido que falharam em suas políticas de combate às drogas.

Suplicy lembrou ainda que não há consenso entre a comunidade médica sobre esse tema, havendo especialistas que dizem que a descriminalização poderá aumentar o consumo, e outros que consideram a maconha uma droga bastante segura.

- Interessante notar que na lista das drogas mais nocivas à saúde, publicada pela revista medica Lancet, a maconha aparece em 11º lugar, atrás do álcool e do cigarro, que são vendidos legalmente. Existem países como a Holanda e Portugal, nos quais o consumo de algumas drogas é tolerado. Neles, o uso da maconha vem caindo, segundo a reportagem do Fantástico - assinalou Suplicy.

FONTE: Da Redação / Agência Senado

Denúncia marca comemoração dos 102 anos do ensino profissionalizante




A cobrança de valores diferentes dos alunos que pagam mensalidades à vista e dos que recorrem ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), em faculdades particulares brasileiras, foi denunciada pelo frei David Raimundo dos Santos, presidente da rede de cursinhos populares Educafro, durante sessão especial do Senado em homenagem aos 102 anos do ensino técnico profissionalizante, nesta segunda-feira.

Frei Davi disse que há faculdade que cobra R$ 400 por um curso de quem paga à vista e R$ 1.000 de quem quita a mensalidade pelo Fies - estudantes carentes que, após a conclusão do curso, têm de devolver o dinheiro emprestado pela Caixa Econômica Federal, a operadora do programa.

- O governo está permitindo que a faculdade particular roube, sem botar polícia em cima delas - disse.

Importância

O religioso franciscano foi um dos oradores da sessão especial em comemoração aos 102 anos do ensino, solicitada pelo senador Paulo Paim (PT-RS). O parlamentar gaúcho lembrou que o ensino técnico começou no governo do presidente Nilo Peçanha (1909-1910), com 19 escolas e hoje tem 402 unidades funcionando em todo o país.

Ao destacar a importância do ensino técnico, o senador recorreu a seu exemplo pessoal, que trabalhava como vendedor de frutas em feira livre e se tornou ferramenteiro em um curso do Senai. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que expandiu o ensino técnico profissionalizante, segundo Paim, se tornou metalúrgico em um curso do Senai.

Mobilização

Na presidência da sessão, o senador Wilson Santiago (PMDB-PB) disse que a mobilização em defesa do ensino profissionalizante demonstra a concordância de todos quanto a sua importância, "que perdura por sucessivas gerações de mulheres e de homens deste país".

Santiago afirmou que o Censo Escolar de 2010 revelou que, no ano passado, o ensino profissionalizante contava com 1.140.388 matrículas. Desse total, menos da metade, ou seja, 47,5%, correspondia a inscrições de jovens na rede privada de ensino. O restante das vagas está distribuído na educação pública, em âmbito federal, estadual e municipal.

Paradoxo

O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) reconheceu os avanços do ensino técnico profissionalizante, mas apontou um paradoxo desafiante para o país: a busca de empregos desesperada por parte dos jovens convive com a dificuldade das empresas para contratar trabalhador qualificado. A chave para resolver esse problema, advertiu, é a qualificação maior rápida dos jovens.

O secretário de educação profissional e tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Moreira Pacheco, observou que os investimentos maciços em educação não resolvem em curto prazo os problemas de qualificação profissional. Ele notou que o prazo de um ciclo educacional é de cerca de 20 anos.

Características

As novas características do mercado de trabalho, de acordo como secretário, dificultam essa formação. Antigamente, acrescentou, aprendia-se uma profissão com o pai, com o avô ou com uma pessoa mais velha. Agora, isso é impossível, porque as novas tecnologias requerem do trabalhador conhecimento que não se encontra disponível nas gerações anteriores.

- O senador Paim, se deixar de ser senador, vai ter alguma dificuldade no mercado de trabalho, porque agora o torno mecânico opera com um tecladinho. Não é mais aquele torno que tirou o dedo do Lula. Agora é com um teclado que o trabalhador, com o avental branco, longe da graxa, torneia as peças, constrói as peças. Por isso, a educação profissional é fundamental nos dias de hoje - acrescentou.

Ampliação

Já a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) lembrou do recente lançamento do Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec), que prevê a ampliação da oferta de cursos técnicos profissionalizantes por meio do financiamento estudantil, da expansão da rede de ensino e da oferta de cursos gratuitos. A meta é formar 8 milhões de profissionais até 2014.

A senadora Angela Portela (PT-RR) observou que o Pronatec, que se inicia em junho, focaliza especialmente os beneficiários do Programa Bolsa Família, "que têm dificuldades de encontrar a porta de saída dos programas de assistência social mantidos pelo governo".

Requalificação

Outro público alvo, conforme a senadora, é constituído de jovens do ensino médio e de trabalhadores que fizeram uso do seguro desemprego por mais de uma vez. Segundo ela, repetidos encaminhamentos ao seguro desemprego "evidenciam a dificuldade que esses jovens encontram para inserir-se, de forma duradoura, em um mercado que exige, cada vez mais, dos trabalhadores".

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que "o governo Lula fez um esforço muito grande e deu um salto no número de escolas técnicas". Mas, de acordo com o parlamentar, é preciso ter o cuidado de reforçar também o ensino fundamental. Cristovam advertiu que uma escola técnica não vai educar bem um jovem que não tiver passado por um bom ensino fundamental.

FONTE: Agência Senado

Ainda há discriminação racial no setor bancário, afirmam debatedores





A diversidade no mercado de trabalho do setor bancário foi o tema do debate da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) realizado nesta segunda-feira (30). Os participantes da audiência pública afirmaram que a discriminação contra o bancário negro ainda é grande.

O debate foi focado no Mapa da Diversidade do Setor Bancário , elaborado em parceria pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e por outras entidades. O objetivo do estudo é promover a igualdade de oportunidades para todos os brasileiros, independente da cor, sexo, idade, tendo ou não qualquer tipo de deficiência

O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, afirmou, na sua exposição, que os negros bancários recebem salários menores do que os colegas brancos, e que "a cor da pele é um impeditivo de ascensão na empresa".A partir de 1996, segundo ele, os movimentos organizados iniciaram uma série de negociações com a Febraban, com o objetivo de acabar com todo tipo dediscriminação nos bancos - não só contra negros, mas também contra mulheres e deficientes -e criar mais oportunidades para os negros no setor financeiro.

- Desde então, temos avançado, mas é necessário avançar muito mais - disse Almir Aguiar.

O diretor executivo da rede de Pré-Vestibulares Comunitários e Educação para Afrodescendentes e Carentes (Uducafro), Frei David Raimundo Santos, afirmou que os negros são apenas 19% dos contratados em instituições bancárias. Ele também comentou os resultados do Mapa da Diversidade, segundo o qual os funcionários negros recebem cerca de 64,2% do salário dos brancos e apenas 20,6% dos contratados conseguem ser promovidos.

- Os demais entram como contínuos e morrem como contínuos. A maneira como o negro vem sendo discriminado descaradamente é uma violência contra a nação - afirmou Frei David, que reclamou ainda da ausência da Febraban nos debates desta segunda.

Anhamona da Silva Brito, secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), da Presidência da República, destacou a importância do Poder Legislativo no combate à discriminação em todos os níveis, por meio de audiências públicas como a realizada nesta segunda. O Mapa da Diversidade, segundo ela, serviu como ponto de partida para que no dia 28 de julho de 2010, a secretaria assinasse com a Febraban um protocolo de intenções para estabelecer políticas de igualdade dentro dos bancos. Mas pouco foi feito desde então, segundo relatou.

- A Febraban ficou de elaborar um plano sobre o protocolo em até 90 dias após a assinatura documento. Esse prazo venceu em 28 de outubro e ainda nada foi feito - disse a representante da Seppir.

Na opinião do diretor da Associação dos Advogados do Banco do Brasil (Asabb) e também ouvidor da Igualdade Racial, Humberto Adami, essa fase das intenções e dos protocolos já passou e com pouco resultado. Para ele, é preciso, neste momento, usar outras ferramentas no combate à discriminação.

- É necessário aumentar os órgãos de ouvidorias para que o cidadão possa fazer denúncias - sugeriu Adamo.

Febraban

Ao final da audiência, Paim leu ofício enviado pela Febraban, colocando-se à disposição para fortalecer "o processo de negociação".

FONTE: Agência Senado

O criador do reggae e mentor de Bob Marley, Lee Perry, sai das sombras em documentário nos EUA






A música de Lee Perry entrava por um dos ouvidos de Ethan Higbee e não saía pelo outro. Desde a faculdade, o cineasta americano sonhava se encontrar com o mitológico produtor jamaicano e convencê-lo a deixar que documentasse sua trajetória, que se confunde com o próprio surgimento do reggae, estilo que Perry ajudou a moldar, com genialidade e excentricidade, entre os anos 1960 e 70. Por isso, quando a hora chegou, ele parou na porta de um restaurante chinês em Londres, em 2005, respirou fundo, tomou coragem e fez seu papel.


- Eu estava bem nervoso, pensando que aquilo tudo era uma loucura - admite Higbee, sobre o encontro marcado pelo próprio Perry, depois de várias tentativas frustradas. - Ele estava numa mesa enorme, reunido com a família, e eu era o único ali que não era seu parente. Depois de alguns minutos de puro constrangimento, me apresentei e consegui sentar-me ao seu lado. Então, comecei a falar sem parar, dizendo que sonhava fazer um filme com ele havia mais de dez anos.


Narração de Benicio Del Toro


Para surpresa de Higbee, o arredio Perry digeriu bem a lábia do diretor e aceitou fazer o filme. Seis anos depois, o resultado daquele encontro está em cartaz nos Estados Unidos. Escrito e dirigido por Higbee e seu amigo Adam Lough,"The Upsetter" mostra a história de uma das mais incríveis figuras da música. Narrado pelo ator Benicio Del Toro, outro fã de Perry, o documentário revê a história do genial produtor de aparência macunaímica que, no lendário estúdio Black Ark, em Kingston, nos anos 1970, forjou as bases do reggae moderno, produzindo alguns dos principais nomes do gênero, inclusive Bob Marley, a quem ensinou tudo e mais um pouco.


Endeusado em fronteiras além-reggae por nomes como Paul McCartney, The Clash e Beastie Boys, entre muitos outros, essa lenda viva e ambulante, de 75 anos, raramente dá entrevistas filmadas. Por isso, as lendas o cercam como os espíritos que diz ver de vez em quando. Uma delas diz que Perry, que durante muito tempo foi um voraz consumidor de rum e cigarros alternativos, costumava soprar a fumaça destes em cima das fitas para que elas ficassem "mágicas". A outra, mais famosa, conta que, durante uma crise nervosa, o pioneiro do dub - a vertente psicodélica do reggae, que influenciou decisivamente a música eletrônica - queimou o Black Ark, transformando em cinzas todo o seu rico arquivo.


- De fato, há todas essas lendas em torno de Perry e também o fato, indiscutível, de que ele teve um papel fundamental na evolução da música pop - afirma o diretor, que entrevistou Perry em Zurique, na Suíça, onde ele se refugiou durante um tempo, assustado com os "espíritos malignos" que circulavam na Jamaica nos anos 1980. - O que tentamos mostrar no filme foi a importância dessa figura inspiradora, a partir do seu próprio ponto de vista, das suas próprias palavras.

Essa opção rendeu algumas críticas ao filme após suas primeiras exibições, em festivais na Europa e nos EUA. O que se dizia é que, apesar da originalidade do roteiro e da riqueza das imagens, muitas tiradas dos arquivos do próprio Perry, os diretores não tinham conseguido dimensioná-lo corretamente, deixando de entrevistar outras pessoas que pudessem falar sobre sua real importância.


- Foram críticas interessantes, mas que julgamos improcedentes - garante Lough. - Na verdade, entrevistamos várias pessoas ao longo desse anos: músicos, jornalistas e produtores como Roger Stefans e Adrian Sherwood, além de amigos e familiares dele. Mas, no final, decidimos não optar por esse formato batido de documentários, em que as pessoas ficam falando sem parar como alguém é genial. Achamos que Perry, com toda a sua inusitada eloquência, seria o melhor para conduzir sua própria história. Além do mais, as imagens de arquivo que ele nos cedeu são fantásticas, mostrando os primórdios do reggae, além de cenas raras dele trabalhando no Black Ark.


Quadros pintados e queimados


Durante uma das cenas do filme, reproduzida no trailer que circula no YouTube, Perry aparece queimando alguma coisa na neve, o que algumas pessoas na internet interpretaram como uma alusão ao incêndio no Black Ark.

- Ele está queimando algumas das suas pinturas - conta Higbee. - Descobrimos que ele pinta quase diariamente, inspirado pelas suas próprias canções. Depois, quando se cansa dos quadros, os incendeia ao ar livre. Perry nos disse que considera o fogo muito rejuvenescedor. Dá para perceber.

Apesar da opção dos diretores pela "inusitada eloquência" de Perry, o diretor de "The Upsetter" - que ganha versão em DVD até o final do ano - admite que incluiu legendas em algumas falas do lendário produtor, devido ao seu "jamaiquês" incompreensível:

- Confesso que houve alguns momentos em que não entendíamos nada do que ele estava dizendo.

FONTE: o globo

domingo, maio 29, 2011

O PT esqueceu os trabalhadores





A posição da mídia nativa em relação ao Caso Palocci intriga os meus inquietos botões. Há quem claramente pretenda criar confusão. Outros tomam o partido do chefe da Casa Civil. Deste ponto de vista a Veja chega aos píncaros: Palocci em Brasília é o paladino da razão e se puxar seus cadarços vai levitar.

Ocorre que Antonio Palocci tornou-se um caso à parte ao ocupar um cargo determinante como a chefia da Casa Civil, mas com perfil diferente daqueles que o precederam na Presidência de Lula. José Dirceu acabou pregado na cruz. Dilma foi criticada com extrema aspereza inúmeras vezes e sofreu insinuações e acusações descabidas sem conta. A bem da sacrossanta verdade factual, ainda no Ministério da Fazenda o ex-prefeito de Ribeirão Preto deu para ser apreciado pelo chamado establishment e seu instrumento, a mídia nativa.

As ações de Palocci despencaram quando surgiu em cena o caseiro Francenildo, e talvez nada disso ocorresse em outra circunstância, porque aquele entrecho era lenha no fogo da campanha feroz contra a reeleição de Lula. Sabe-se, e não faltam provas a respeito, de que uma contenda surda desenrolava-se dentro do governo entre Palocci e José Dirceu. Consta que o atual chefe da Casa Civil e Dilma não se bicavam durante o segundo mandato de Lula, o qual seria enfim patrocinador do seu retorno à ribalta.

E com poderes largos, como grande conselheiro, negociador junto à turma graúda, interlocutor privilegiado do mercado financeiro e do empresariado, a contar com a simpatia de amplos setores da mídia nativa. Um ex-trotskista virou figura querida do establishment, vale dizer com todas as letras. Ele trafega com a devida solenidade pelas páginas impressas e nos vídeos, mas é convenientemente escondido quando é preciso, como se envergasse um uniforme mimético a disfarçá-lo na selva da política.

Murmuram os botões, em tom sinistro e ao mesmo tempo conformado: pois é, a política… Está claro que se Lula volta à cena para orquestrar a defesa de Palocci com a colaboração de figuras imponentes como José Sarney, o propósito é interferir no jogo do poder ameaçado e garantir a estabilidade do governo de Dilma Rousseff, fragilizado nesta circunstância.

A explicação basta? Os botões negam. CartaCapital sempre se postou contra a busca do poder pelo poder por entender que a política também há de ser pautada pela moral e pela ética, igual a toda atividade humana. Fatti non foste a viver come bruti, disse Dante Alighieri. Traduzo livremente: vocês não foram criados para praticar, embrutecidos, a lei do mais forte. Nós de CartaCapital poderemos ser tachados de ingênuos, ou iludidos nesta nossa crença, mas a consideramos inerente à prática do jornalismo.

No tempo de FHC, cumprimos a tarefa ao denunciar as mazelas daqueles que Palocci diz imitar, na aparente certeza de que, por causa disso, merece a indulgência plenária. Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Rezende, e outros fortemente enriquecidos ao deixarem o governo graças ao uso desabrido da inside information, foram alvo de CartaCapital, e condenados sem apelação. Somos de coerência solar ao mirar agora em Antonio Palocci.

Em outra época, os vilões foram tucanos. Chegou a hora do PT, um partido que, alcançado o poder, se portou como os demais, clubes armados para o deleite dos representantes da minoria privilegiada. Devo dizer que conheço muito bem a história do Partido dos Trabalhadores. A primeira reportagem de capa publicada por uma semanal sobre a liderança nascente de Luiz Inácio da Silva, dito o Lula, remonta a começos de fevereiro de 1978. IstoÉ foi a revista, eu a dirigia. Escrevi a reportagem e em parceria com Bernardo Lerer entrevistei o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, na vanguarda de um sindicalismo oposto ao dos pelegos.

Dizia a chamada de capa, estampada sobre o rosto volitivo do jovem líder: Lula e os Trabalhadores do Brasil. Já então sabia do seu projeto, criar um partido para defender pobres e miseráveis do País. Acompanhei a trajetória petista passo a passo e ao fundar o Jornal da República, que nasceu e morreu comigo depois de menos de cinco meses de vida, fracasso esculpido por Michelangelo em dia de desbordante inspiração, passei a publicar diariamente uma página dedicada ao trabalho, onde escreviam os novos representantes do sindicalismo brasileiro. Ao longo do caminho, o partido soube retocar seu ideário conforme tempos diferentes, mas permaneceu fiel aos propósitos iniciais e como agremiação distinta das demais surgidas da reforma partidária de 1979, marcado por um senso de honestidade e responsabilidade insólito no nosso cenário.

Antonio Palocci é apenas um exemplo de uma pretensa e lamentável modernidade, transformação que nega o passado digno para mergulhar em um presente que iguala o PT a todos os demais. Parece não haver no Brasil outro exemplo aplicável de partido do poder, é a conclusão inescapável. Perguntam os botões desolados: onde sobraram os trabalhadores? Uma agremiação surgida para fazer do trabalho a sua razão de ser, passa a cuidar dos interesses do lado oposto. Não se trataria, aliás, de fomentar o conflito, pelo contrário, de achar o ponto de encontro, como o próprio Lula conseguiu como atilado negociador na presidência do sindicato.

Há muito tempo, confesso, tenho dúvidas a respeito da realidade de uma esquerda brasileira, ao longo da chamada redemocratização e esgotadas outras épocas em que certos confrontos em andamento no mundo ecoavam por aqui. Tendo a crer, no momento, que a esquerda nativa é uma criação de fantasia, como a marca da Coca-Cola, que, aliás, o mítico Che Guevara bebia ironicamente às talagadas na Conferência da OEA, em 1961, em Punta del Este. Quanto à ideologia, contento-me com a tese de Norberto Bobbio: esquerdista hoje em dia é quem, aspirante à igualdade certo da insuficiência da simples liberdade exposta ao assalto do poderoso, luta a favor dos desvalidos. Incrível: até por razões práticas, a bem de um capitalismo necessitado de consumidores.

Nem a tanto se inclina a atual esquerda verde-amarela, na qual milita, digamos, o ultracomunista Aldo Rebelo, disposto a anistiar os vândalos da desmatação. E como não anistiar o ex-camarada Palocci? Lula fez um bom governo, talvez o melhor da história da República, graças a uma política exterior pela primeira vez independente e ao empenho a favor dos pobres e dos miseráveis, fartamente demonstrado. CartaCapital não regateou louvores a estes desempenhos, embora notasse as divergências que dividem o PT em nome de hipócritas interpretações de uma ideologia primária.

Na opinião de CartaCapital, e dos meus botões, não é tarefa de Lula defender o indefensável Antonio Palocci, e sim de ajudar a presidenta Dilma a repor as coisas em ordem, pelos mesmos caminhos que em 2002 o levaram à Presidência com todos os méritos.

FONTE: carta capital / Mino Carta

sábado, maio 28, 2011

Greves de professores afetam 1,7 mi de alunos




Movimentos em seis Estados mobilizam tanto docentes de redes estaduais de ensino como municipais; categoria pede reajuste salarial





Em pelo menos seis Estados, movimentos grevistas de professores da rede pública estão afetando até 1,7 milhão de estudantes, ao todo, segundo sindicatos da categoria. Cada Estado - ou município, no caso de Porto Alegre - tem reivindicações diferentes e negocia de maneira independente.

Os professores do Amapá entraram ontem em greve, por tempo indeterminado. Eles reivindicam reajuste salarial de 16%, contra os 3% oferecidos pelo governo. Na capital Macapá, 90% dos professores teriam aderido.

Em Porto Alegre, a greve chegou ao terceiro dia e afeta 40 mil alunos. A categoria não aceita reajuste de 6,5% em maio e mais 0,5% em dezembro e quer 18%. A prefeitura sustenta que não pode oferecer mais. O Sindicato dos Municipários estima que 90% dos educadores estão parados, enquanto a prefeitura afirma que o índice é de 70%. A categoria diz que a greve só termina se houver nova proposta.

Em Sergipe, os professores da rede estadual entram no quarto dia de paralisação, prejudicando 300 mil alunos. Eles fazem hoje uma vigília na Assembleia Legislativa a partir das 8 horas e, amanhã, um ato público no centro comercial de Aracaju. A categoria recusou proposta de pagamento integral imediato do reajuste de 15,86% para os professores do nível um e a partir de setembro para os demais níveis.

Adesão forte. Em Santa Catarina, onde a greve chega ao oitavo dia, a adesão é de quase 90% (35,6 mil dos 39 mil professores da rede), segundo o sindicato da categoria. Cerca de 600 mil alunos estariam sem aula.

A greve é uma reação à proposta do governo que fixa, por medida provisória, o piso nacional do magistério em R$ 1.187 para docentes que não tinham o valor como salário-base sem a soma de abono. Antes, o mínimo era de R$ 609. Os professores são contra a MP porque ela não acompanharia o progresso de carreira. O governo se recusa a negociar, e os grevistas querem que os deputados rejeitem a MP.

Em Alagoas, onde 350 mil estão sem aula, os professores decidiram prorrogar a greve, iniciada na semana passada, por mais uma semana. Os docentes acusam defasagem de 25% no salário, mas o governo oferece 7%.

Quase um mês. Na Paraíba, 18 mil funcionários de 600 escolas (60% dos profissionais) estão em greve há 25 dias, segundo o sindicato local, afetando as aulas de 400 mil estudantes. Os professores pedem piso de R$ 890 para 30 horas semanais e manutenção das gratificações. Hoje, o piso é de R$ 661. O governo diz que aceita pagar o piso, desde que as gratificações sejam incorporadas.

FONTE: ESTADÃO

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Da casa do lobby ao apartamento da empresa






O recente affaire Palocci apresenta um significativo paralelismo com o sucedido com Francenildo dos Santos Costa, caseiro da chamada "casa do lobby" em Brasília, alugada por ex-assessores da prefeitura de Ribeirão Preto para negócios e prazeres. O então ministro da Fazenda, em 2006, negou que frequentasse a casa.

Convocado para depor na CPI dos Bingos, Francenildo desmascarou o ministro até ser calado por mandado de segurança, em decisão absurda do Supremo Tribunal Federal, na qual se considerou que, por suas "condições culturais", o caseiro não teria como contribuir para o esclarecimento dos fatos.

Não bastou o silêncio imposto pela Justiça que desqualificou o homem humilde, era necessário desmoralizá-lo. Dois dias depois, o caseiro teve o sigilo bancário violado pela Caixa Econômica Federal, subordinada ao Ministério da Fazenda, como tentativa de desacreditar a sua palavra.

Com precipitação, festejou-se o encontro de depósitos de R$ 25 mil e concluiu-se, apressadamente, ter sido o caseiro comprado. Para o governo, a violação praticada seria pecado venial, diante do pecado mortal da compra da declaração do caseiro por inimigos do ministro.

Os súcubos do ministro, após violarem o sigilo bancário, deram a órgão de imprensa a tarefa de espalhar a calúnia. Para dar ares de legitimidade à acusação leviana o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mandou ofício à Polícia Federal, no dia seguinte à quebra do sigilo, aventando a possibilidade de ocorrência de lavagem de dinheiro.

O tiro saiu pela culatra. O homem simples era honesto, recebera a importância de seu pai e fora submetido ao mais puro arbítrio do Estado, em grave uso abusivo do aparelho estatal. Francenildo, em lição de moral agora esquecida pelo atual ministro da Casa Civil, disse depois, ao depor na Corregedoria do Senado: "O lado mais fraco não é o do caseiro, é o da mentira. Duro é falar mentira que você tem de ficar pensando. A verdade é fácil".

O Supremo Tribunal Federal, por cinco votos a quatro, entendeu não haver provas da participação do ministro no crime de quebra do sigilo, pois "o suposto interesse de Palocci em ter desacreditado o depoimento do caseiro à CPI dos Bingos não basta para que ele seja responsabilizado, se não há provas concretas". Em suma, os cinco votos a seu favor reconheciam que não quebrara o sigilo, mas recebera os dados bancários e aceitara a prática do crime que pretensamente o beneficiava.

Agora, os fatos também se apresentam por detrás de um biombo que esconde a verdade. Após ter saído do governo Lula, Palocci fundou empresa com sua mulher. Depois, em dezembro de 2006, alterou-se o objeto social para consultoria financeira e econômica, tendo Palocci, do capital de R$ 2 mil, cotas no valor de R$ 1.980 como sócio e administrador. O outro sócio, um jovem economista, detinha apenas cota no valor de R$ 20. Em dezembro de 2009 o capital foi alterado para R$ 52 mil, dos quais Palocci tinha cotas correspondentes a R$ 51.980 e o jovem economista (presença necessária para a inscrição da empresa no Conselho Regional de Economia) continuava com os mesmos R$ 20. Em setembro de 2010, aumentou-se o capital para R$ 102 mil e Palocci passou a ter R$ 101.960 e o economista, R$ 40.

Em novembro de 2010, eleita Dilma Rousseff, de cuja campanha Palocci fora coordenador, bem como o responsável pelo processo de transição, a mesma firma de consultoria recebeu vultosos pagamentos. O lucro não foi distribuído, pois a empresa, que se confunde com seu sócio majoritário, comprou imóveis, um deles o apartamento para uso de seu administrador, avaliado em mais de R$ 6 milhões.

Em informação obrigatória prestada à Comissão de Ética Pública da administração federal, o já ministro da Casa Civil informou ser possuidor de cotas de empresa agora com objeto social modificado, não mais de consultoria financeira e econômica, mas de administração de imóveis. É apenas uma parte da verdade, pois o ministro informa ser titular de 99,99 cotas de uma empresa de administração de imóveis cujo capital é de R$ 102 mil. No entanto, usufrui valioso apartamento adquirido por sua empresa, investimento alheio totalmente ao objeto social da companhia, do qual passou a ser ocupante, sem notícia de que pague pela locação do imóvel. É um consabido subterfúgio de possuir um bem sem constar diretamente como proprietário.

Se não fosse a denúncia efetivada pela imprensa, nada do patrimônio real do ministro-chefe da Casa Civil seria sabido. E dele apenas se ouviram pedidos de respeito à confidencialidade, que tanto desprezara com relação ao humilde caseiro Francelino.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal, de cuja elaboração participei como membro da Comissão de Ética, timbra ter por finalidade que a sociedade possa aferir a lisura do processo decisório governamental, motivo pelo qual busca evitar conflitos entre interesses públicos e privados. Por isso estabelece o Código de Conduta que, além da declaração de bens, cabe ao administrador público dar informações sobre sua situação patrimonial que, real ou potencialmente, possa suscitar conflito com o interesse público. Saber, portanto, quais foram os clientes dessa empresa de consultoria financeira administrada e pertencente, em 99,99% da cotas, a um médico sanitarista, em serviços pagos quando já previsto como forte ministro, é essencial para se poder ter a transparência visada pelo Código de Conduta.

Como dizia Francenildo, "duro é falar mentira que você tem de ficar pensando", e para não pensar os líderes do governo decretam infantilmente: "O episódio está encerrado". Chega de cinismo: o episódio apenas começa e deve-se é desvendar a verdade para verificar se houve ou não novamente abuso e tráfico de influência, que podem contaminar a confiança no atual governo.

FONTE: O Estado de S.Paulo / Miguel Reale Júnior - ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

sexta-feira, maio 27, 2011

Líder camponesa ameaçada na região de Extrema








Vejam a matéria de Sérgio Bertoni que relata as ameaças de morte sofridas pela camponesa Nilcilene Miguel de Lima, agricultora familiar, assentada pelo INCRA e presidente da ADP - Associação “Deus Proverá” de agricultores familiares do sul de Lábrea, Amazonas, que está jurada de morte, encomendada pelos madereiros que atuam na devastação da região de Extrema.


Nilcilene: uma mulher “encomendada”

Nilcilene Miguel de Lima, agricultora familiar, assentada pelo INCRA e presidente da ADP - Associação “Deus Proverá” de agricultores familiares do sul de Lábrea, Amazonas, está jurada de morte, encomendada pelos madereiros que atuam na devastação da região.

Os conflitos na região de Lábreas, na divisa dos estados do Acre, Rondônia e Amazonas, existem há décadas e a cada ano que passa parecem ficar cada vez mais insolúveis. Terras, madeiras, águas, riquezas naturais, biodiversidade, são objetos de cobiça que geram todo tipo de crime e destruição.

Nilcilene está assentada na região há 7 anos, onde conseguiu desenvolver suas atividades de cultivo familiar ligadas à conservação do meio ambiente, da floresta e ao ativismo social e laboral.

Nestes anos ela e seus familiares conseguiram cultivar uma lavoura com 6000 pés de café, 6000 bananeiras, 3000 abacaxizeiros, 5000 pés de pupunha e iniciar a reprodução de espécies nativas cultivando 900 mudas de Jatobá, 300 de seringueria e 50 de castanheiras, todas destinadas ao reflorestamento da área. Em agosto de 2010, toda esta riqueza produtiva, assim como sua a casa e a de um vizinho próximo foram destruídas pelas chamas ateadas por jagunços contratados pelos madereiros que atuam na região, no que podemos caracterizar como um verdadeiro atentado terrorista capitalista, de direita.

Nilcilene começou sofrer ameaças depois que uma denúncia anônima levou o Ibama a investigar, encontrar e apreender 3 motosserras e vários mognos derrubados e prontos para serem despachados em uma das grandes propriedades próximas à de Nilcilene. O sossego dela, seus parentes e vizinhos terminou aí. Os madereiros enfurecidos com as apreensões de “suas” propriedades acusaram a líder sindical, social e comunitária de ter formulado a denúncia ao Ibama e decidiram intimida-la para que “confessasse” a autoria. Não sendo autora da denúncia, Nilcilene jamais poderia assumir algo que não fez ou que tampouco sabia quem o havia feito. Foi espancada de tal forma que um de seus companheiros na luta em defesa da floresta chegou a dizer: “ela apanhou tanto que dava para ver as manchas rochas em sua pele cor de jambo”.

A associação de agricultores familiares liderada por Nilcilene entrou com vários processos na justiça estadual, mas até agora pouca coisa foi feita, levando os agricultores a sensação de que o Estado do Amazonas é completamente ausente e omisso.

Depois de recorrer à Comissão Pastoral da Terra e a órgãos federais Nilcilene, acompanhada do assistente-técnico da Ouvidoria Agrária Nacional, João Batista Caetano, foi ouvida pelo delegado de Polícia Civil de Lábrea, designado especialmente para o caso pela Delegacia-Geral de Polícia Civil de Manaus, quando finalmente pode relatar as agressões e ameaças de morte que vem sofrendo pelo simples fato de ser a coordenadora de movimento social rural na região sul do Estado do Amazonas.

O mencionado delegado assumiu compromisso de pedir a prisão preventiva dos responsáveis pelas ameaças e agressões físicas. Porém, até o momento, não houve prisão alguma, indiciamento algum. Nem o delegado, nem o promotor público da Comarca de Lábrea, que compunham à epoca o grupo de acompanhamento desses conflitos na região, foram até à localidade, justificando o sentimento dos agricultores familiares em relação à morosidade, impunidade, passividade das autoridades e a ausência total do Estado, possibilitando que a lei seja feita por quem detém o capital.

Os criminosos não se intimidam e no dia 10 de maio p.p. quando suas cunhada e sobrinha deixavam a casa de Nilcilene, após ali pernoitarem, um pistoleiro fortemente armado e bem equipado as abordou para comunicar que iria matar Nilcilene e que as mataria também caso contassem algo para a líder da ADP. O pistoleiro chegou a dar detalhes de como seria o assassinato. “Ela não vai morrer rápido! Vou torturá-la, quebrar suas pernas, braços e depois esquartejá-la”, teria dito ele.

Cunhada e sobrinha ficaram aterrorizadas, mas a sobrinha resolveu contar tudo à tia. Ao saber do ocorrido o marido de Nilcilene saiu em busca do apoio dos vizinhos e todo um esquema de segurança e fuga foi armado. As pessoas que possuem veículos na região não podiam saber que Nilcilene precisava sair dali por estar jurada de morte. Então, optaram por “engravidar” a “cunhada” e levar Nilcilene disfarçada para fora da região.

Chegando à sede do município de Califórnia (AM), Nilcilene não pôde registrar a ocorrência, sendo encaminhada ao municipio de Extrema, em Rondônia. Ali ao tentar registrar a queixa, a polícia local lhe informou não ser possível abrir um BO, pois as ameaças estariam ocorrendo em outro estado da federação, já que Lábreas encontra-se no estado do Amazonas. Depois de muita insistência, finalmente Nilcilene conseguiu registrar um BO, mas as autoridades locais não registraram no mesmo se tratar de ameaças e agressões por parte dos madereiros, nem fizeram menção alguma ao conflito rural, laboral e ambiental.

Desde então, Nilcilene está escondida sob a proteção de organizações humanitárias, pois se voltar para sua casa na região do sul de Lábreas corre perigo. E o que mais Nilselene quer neste momento é poder voltar para seu cantinho de terra e continuar seu trabalho de agricultura e líder social. Não pode! Há 2 pistoleiros a sua espera. Eles se revesam na “guarda” da propriedade de Nilcilene. Um deles é conhecido matador de aluguel que há três meses, vestido de policial, matou um camponês na Bolíva. Para receber o contratado o matador trouxe ao Brasil a orelha de sua vítima boliviana.

No meio de nossa conversa a pergunta que a agricultora familiar e líder social mais se fazia era se existe justiça em nosso país. Indo mais longe, se perguntava se realmente existe Ministério do Meio-Ambiente já que os ricos estão a destruir a Amazônia e ninguém faz nada. Ela questiona ainda a aplicação da Lei Maria da Penha, pois quando foi brutalmente espancada, nenhum dos órgãos oficiais a quem recorreu, realmente buscou solucionar o caso.

Ela quer ainda que as autoridades competentes lembrem-se que os agricultores familiares do Amazonas são cidadãos iguais aos outros, eleitores e pagadores de impostos como qualquer outro brasileiro, mas que são lembrados apenas na época das eleições.

A justiça é rápida para defender os grandes, mas nada faz para proteger os pequenos e tirar os bandidos da área para que eu possa voltar ao meu lar e produzir dignamente como sempre fiz”, desabafa Nilcilene.
FONTE: C.P.T.