Londres ferve. Astros de Hollywood e Bollywood. Bilionários, seus iates
e suas festas suntuosas. Estimados meio milhão de visitantes e 110 chefes de
Estado. Dentre eles, e elas, a presidente Dilma Rousseff, sua filha, Paula, e
comitiva que ocupa 40 quartos dos hotéis Ritz e Millenium Mayfair.
Quando Dilma chegou no início da manhã da quarta, 25, a nova embaixada
ainda não estava pronta para a inauguração. Nos últimos dias, 20 homens da
portuguesa empresa Evidência transportaram e montavam a exposição a ser
visitada pela presidente do Brasil na tarde londrina desta quinta-feira, 26.
Brazil at Heart. O Brasil no coração. A exposição, com 16 toneladas de
papelão e peças tecno, mistura ciência e esportes, aponta para a Rio 2016 e
marca a inauguração da bela embaixada de seis andares. Comprada por 24 milhões
de libras, está a exatos 155 passos da Trafalgar Square, no valorizadíssimo
coração da capital inglesa.
Não muito longe dali está hospedada a comitiva brasileira. No Ritz, 150
Piccadilly, 20 quartos. Na Londres abarrotada de presidentes, príncipes,
primeiros-ministros, ditadores e assemelhados, não há diária por menos de 550
libras nestes dias.
Portanto, por baixo, pelo menos 10 mil libras ao dia. No sábado, quando
a comitiva se for, as diárias terão somado ao menos R$ 100 mil no Ritz.
Mais uns R$ 100 mil em diárias nos outros 20 quartos do Millenium Mayfair, na
Grosvenor Square, vizinho à embaixada dos EUA.
Esses R$ 200 mil, no mínimo, e somente em diárias dos quartos, podem ser
lidos de várias formas.
Assim a seco, como leem –e caem matando comentaristas de redes sociais–,
ou temperados pelo que se chama funções e obrigações de chefe de Estado.
Discuta-se sempre o tamanho de comitivas tropicais, mas, no caso, há
fatos inegáveis. O primeiro é que é extensa a programação de eventos em dois
dos três dias londrinos da presidente da República e comitiva.
O segundo motivo, ainda mais importante e nem sempre mensurável.
Nos últimos dias o Guardian, o mais
respeitado diário londrino, e demais jornais e revistas ingleses discorrerem
sobre a presença de "110 chefes de Estado" na capital onde se
encontram mais de 20 mil jornalistas do mundo todo.
Nos últimos dias, entre os poucos países especificamente citados na
imprensa inglesa, o Brasil. Dentre os raros chefes de Estado com direito a foto,
Dilma Rousseff.
Há quem se irrite, quem odeie ou ame, mas isso é fato. Assim como é fato
que só as diárias pagas para a comitiva nos três dias de visita estão na casa
de, por baixo, R$ 200 mil.
Na noite da terça, e ainda na quarta-feira, enquanto Dilma e comitiva já
cumpriam programação e a trepidante Londres fervia, operários, brasileiros e
portugueses, trabalhavam na embaixada.
Para fazer funcionar o Brazil At Heart, o Brasil no coração. Como
d'hábito à última hora, no ultimíssimo prazo. Desde a última quinta-feira, 19,
funcionários da Evidência se revezam dia e noite na montagem da exposição.
Já as festas londrinas começaram na hora exata. Para quem caminha pela
cidade, um visão rara, inesquecível nas noites e madrugadas da véspera de
abertura das Olimpíadas.
Ruas, praças e restaurantes abarrotados de turistas. Carrões com chefes
de Estados, astros e estrelas indo e vindo de recepções e festas. E, por toda
Londres e ao mesmo tempo, 200 mil muçulmanos deixando as mesquitas e as
orações, interrompendo nas noites do Ramadã o jejum das manhãs e tardes.
Em Kensigton Gardens, o homem mais rico do Reino Unido, o magnata do aço
Lakshmi Mittal recebe atletas da Índia e estrelas de Bollywood para luxuosa
recepção na galeria Serpentine.
Nos arredores do Museu Victoria e Albert, fãs se acotovelavam para
tentar ver a anunciada presença de Brad Pitt e Angelina Jolie. Rihanna a cantar
para os convidados numa festa de 60 mil libras. Entre os convivas, o príncipe
Harry, o Duque e Duquesa de Cambridge e o casal David e Victoria Beckham.
Num jantar de caridade em black-tie, homenagem a Muhammad Ali, outra
lista de convidados bem além dos castelos de Caras: Catherine Zeta-Jones e
Lewis Hamilton, Michael Douglas e Sir Christopher Lee, além do próprio Muhammad
Ali.
Terra que nunca renegou piratas, os seus e quem mais vier, o russo Roman
Abramovich, dono do Chelsea, era aguardado. Segundo o boca a boca, a bordo do
Eclipse, o maior iate particular do mundo, equipado com o seu próprio míssil.
Londres trepidante na madrugada…enquanto isso, na 10 Cockspur Street,
novo endereço da embaixada, ralação. Faltavam menos de 24 horas para a
inauguração e, claro, Brazil at Heart, será na última hora, no último dia.
Jurandir, o faz-tudo da embaixada brasileira, ao lado de um colega
aparafusa as duas placas que, à entrada do prédio, informam em português e
inglês:
- Embaixada do Brasil
Com um paninho na mão Jurandir dá um lustro, tira a poeira das placas.
Na primeira sala, à entrada da embaixada, camadas e camadas de papelão, 888
peças espalhadas. É o Brazil at Heart, a exposição criada pelo estúdio Naja de
Ostos, do brilhante arquiteto brasileiro Ricardo de Ostos.
Ricardo, há 11 anos acostumado à pontualidade britânica, responde
britanicamente à pergunta sobre a "última hora":
- Nosso trabalho de arquiteto é nos adequarmos ao tempo…
Na quarta-feira, dia da chegada a Londres, dois compromissos. No mais
importante, Dilma Rousseff conversou por meia hora com o primeiro-ministro
David Cameron.
Nesta quinta, pela manhã, a presidente do Brasil deslocou-se até o
Parque Olímpico. Para encontrar-se com a cúpula da Rede Record. Encontro de
mais de uma hora. Presentes o presidente da Record, Alexandre Raposo, e o dono
da emissora, o Bispo Edir Macedo. E, importante: Marcos Pereira, o homem do PR.
Nesta tarde, antes da inauguração da nova sede da embaixada e da
exposição Brazil at Heart, o encontro com o presidente da Fifa, Joshep Blatter,
no Hotel Ritz. Na sexta, 27, pela manhã, conversa com o líder do partido
trabalhista e, em seguida, almoço com atletas do Brasil na Vila Olímpica.
À noite, a abertura das Olimpíadas. No final da tarde, a caminho do
Parque Olímpico, e no carro blindado alugado pela embaixada do Brasil, a ida
para o Buckingham Palace.
Cada convidado de cada país tem direito a um único acompanhante. Lugar
esse disputado a tapa em todas as comitivas, pelo que se tem notícia. A
presidente Dilma levará a filha, Paula, para conhecer a rainha Elizabeth em seu
lendário Palácio.
Qualquer mãe faria igual.
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