Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

quarta-feira, janeiro 30, 2013

Engula o choro, presidente









"Engula o choro, presidente.
  Marcela Martins

Engula o choro ao falar da tragédia de Santa Maria. 

Engula o choro e todos os problemas desse país que nele estão escancarados. 

Engula que o medo do segurança de ser demitido neste país é maior do que sua consciência de deixar as pessoas saírem sem pagarem suas contas para não morrerem. 

Engula a soberba dos donos de empresa desta nação que não estão nada preocupados com pessoas como eu e até mesmo como a senhora porque estão focados demais em lucrar, e preferem fechar as portas como numa câmara de gás a ter prejuízos. 

Engula a pressão que todos os seus funcionários sentem todos os dias. Engula que para arcar com seus altíssimos impostos, todos eles dão um jeitinho bem brasileiro de se desviar dos regulamentos e leis. 

Engula que os órgãos responsáveis por evitar que isso aconteça não funcionam. 

Engula que eles deixaram essa, entre tantas e tantas casas mais, funcionar sem licença. 

Engula que provavelmente alguém que também ganha pouquíssimo aceitou um suborno para que isso acontecesse. 

Engula que a senhora deu "é" sorte por ser apenas essa casa entre todos os tantos lugares que deveriam estar fechados, que caiu na boca da mídia. 

Engula a mídia que vai atacar com todo o sensacionalismo possível em cima das famílias que estão procurando celulares em cima de corpos para reconhecer seus filhos. 

Engula as operadoras que não funcionam e que provavelmente impediram uma série de vítimas a pedirem socorro. 

Engula que o socorro que chega para se enfiar em lugares como este, pegando fogo, cheio de corpos de jovens para serem resgatados, recebe um salário vergonhoso, com descontos ainda mais vergonhosos, e ainda assim executam um trabalho triste e digno antes de voltarem para a casa e agradecerem por seus próprios estarem dormindo.

Não, presidente. Não chore ao falar da tragédia. Faça! Faça alguma coisa. E pare de nos dar como exemplos uma série de catástrofes para tomar medidas idiotas que não valerão de nada alguns meses depois. Não se emocione. Acione! Acione a todos os órgãos públicos, faça uma limpa em sua maldita corrupção e devolva à segurança pública, às instituições sérias, aos professores, aos bombeiros, aos enfermeiros, aos seguranças, aos jovens, o mínimo de dignidade. Não faça um discurso. Mude o percurso. 

Mude tudo porque estamos cansados de ver nossos iguais pegando fogo, morrendo afogados, morrendo nas filas, morrendo no crack, morrendo, morrendo, morrendo, e tendo como última imagem aquela tv aos fundos anunciando o fim de mais uma bilionária obra de estádio de futebol.

Não, presidente. Desculpe, mas na minha frente, a senhora não pode chorar. Não pode chorar sua culpa. Não pode chorar sua inércia. Não pode chorar no Chile mas também não pode chorar em Santa Maria. Porque isso é muito maior do que só um acidente. Isso é muito maior do que só sua comoção. 

Engula o seu choro, presidente. O seu, o dos jovens que perceberam que não teriam mais o que fazer que não morrer, e em especial, o de seus amigos e familiares, que em um país como esse, não têm outra opção que não chorar. 

Engula o choro, presidente."

FONTE:  Marcela Martins, Santa Maria - RS.

terça-feira, janeiro 29, 2013

‘Django livre’ e ‘Lincoln’, sobre igualdade e protagonismo











Flávia Oliveira comenta a questão que envolve

os dois filmes


Sete anos separam o western fictício de Quentin Tarantino da realista trama política de Steven Spielberg. “Django livre”, assinado pelo primeiro, se passa em 1858; “Lincoln”, obra do segundo, em 1865, quando a Guerra Civil Americana já completara quatro anos. Assistir a esses dois candidatos ao Oscar de melhor filme, neste 2013 de Barack Obama reeleito para o segundo mandato presidencial nos EUA, é oportunidade bem-vinda de reflexão sobre a construção da igualdade para negros de qualquer nacionalidade.

São cinco horas e quinze minutos de reflexões sobre escravidão. E liberdade. De um lado, o humor sádico e o realismo fantástico de Tarantino, em mais uma película sobre vingança. De outro, o enredo entre quatro paredes, que trata da determinação do 16º presidente americano, na pele de um Daniel Day-Lewis impecável, em aprovar, a qualquer preço, a emenda constitucional abolicionista. Num extremo, o justiçamento; noutro, a Justiça.

Nos dois terços iniciais, “Django” empurra o espectador para a indagação que Calvin Candie, em interpretação segura de Leonardo DiCaprio, leva à mesa de jantar, junto ao crânio de Ben, um negro que serviu à família. “Por que não nos matam?” Como resposta, o personagem menciona um improvável determinismo fisiológico à submissão.

No filme de Tarantino, a liberdade é pavimentada sobre a vingança. É nela que o personagem-título, vivido por Jamie Foxx, ancora sua fileira de homicídios de (muitos) homens e (umas poucas) mulheres, todos brancos.

“Django”, não “Lincoln”, mostra as crueldades e as contradições do sistema escravocrata. A mão pesada de Tarantino expõe, além do suportável para os olhos, a tortura imposta pelos senhores a negros fugidios. Perde-se a conta do número de vezes em que a palavra nigger, criolo em tradução livre para o português, é dita como ofensa.

Pela lei ou pela barbárie
Há os escravos obedientes e, por isso, protegidos. Há as negras exploradas sexualmente, chamadas comfort girls. Há os privilégios concedidos aos mulatos. Há o desprezo pelos negros que assumem o trabalho sujo dos brancos. Há a indignação de uma comunidade que se depara com um não branco montado num cavalo. São fragmentos de realidade na ficção inverossímil de Tarantino.

Já “Lincoln” traz a libertação pela lei, ainda que construída com práticas políticas heterodoxas. Igualdade é conceito que se repete no belo e denso roteiro de Tony Kushner, não por acaso candidato ao Oscar, tal como o diretor, o protagonista e Tommy Lee Jones, que dá vida a Thaddeus Stevens, deputado dividido entre idealismo e pragmatismo políticos.

Assistir ao filme de Spielberg depois de ver o de Tarantino dá certeza de que na Justiça estão os alicerces da igualdade. No justiçamento mora a barbárie, que iguala algozes e vingadores. Não se faz democracia assim. Entendido, sr. Candie?

Martin Luther King Jr. ensinou aos EUA, nos anos 1960, que a essência do movimento pelos direitos civis estava na construção da igualdade. Foi ela que emergiu do arcabouço legal que nasceu com a 13ª Emenda, a da abolição, e culminou com a eleição, em 2008, do primeiro negro à Presidência da República.

A preferência pela civilidade de “Lincoln” ao revanchismo de “Django” é quase óbvia. Mas os dois trazem, ao menos, uma reflexão adicional e relevante. É o protagonismo negro.

“Lincoln” apresenta em suas duas horas e meia a liberdade concedida por um grupo de brancos empenhados em inserir a América independente no círculo das grandes nações. A incômoda passividade dos negros no processo está evidente logo na primeira cena, quando o cabo Ira Clark fala ao presidente do sonho de, em meio século, ver coronel um dos seus; em cem anos, votar. Naqueles anos de guerra civil, os escravos recém-emancipados tinham conquistado só o direito de combater por salário igual ao dos brancos. Nos EUA do negro Obama, Spielberg sublinhou o papel dos brancos na abolição.

No filme de Tarantino, o protagonismo do personagem-título também se constrói pelas mãos do caçador de recompensas de origem europeia Dr. King, vivido brilhantemente por Christoph Waltz. Django é um negro que tenta se libertar pela fuga. É capturado, vendido e, então, apresentado ao novo senhor, que lhe propõe a alforria em troca de ajuda na execução dos que lhe açoitaram no passado. É, de novo, a liberdade concedida. Somente no terço final do filme, quando o parceiro morre, o personagem de Foxx assume as rédeas de seu plano.

O par de filmes abre alas para outros tantos, que podem revisitar sob outra ótica, ficcional ou documental, a luta pela abolição. Fará bem aos Estados Unidos. E a negros de todo o mundo.

FONTE:O GLOBO / FLÁVIA OLIVEIRA

segunda-feira, janeiro 28, 2013

O dia em que o Brasil me perdeu


Eu hoje tenho 20 anos e quero me divertir. Meus pais estão dormindo em casa e amanhã haveria um churrasco. Eu tenho a vida pela frente e quero mudar o mundo. Mas também quero namorar, dançar, rir, andar a esmo com amigos nas lombas íngremes da minha cidade. Eu sou feito da bafagem úmida da Serra Geral, dos morros que circundam a Boca do Monte, do eco metálico dos trilhos de outrora, da lembrança ancestral da Gare onde meus avós trabalhavam. Ainda que eu não tenha nascido aqui, eu tenho o viço púbere do futuro. Eu posso ter vindo das barrancas de Uruguaiana, das campinas de São Borja, das grotas de Santiago do Boqueirão, das videiras de Jaguari, de São Pedro do Sul, São Sepé, São Gabriel, Dom Pedrito, de cima da serra, não importa. Santa Maria sou eu, cidade cadinho, generosa e aldeã, que nos pariu a todos em seu útero colossal.

Eu sinto o afago do vento norte, eu vejo anciãs tomando mate na janela e cadeiras nas calçadas da Vila Belga em uma tarde quente de janeiro. Eu tenho o lastro interiorano de minha cidade, mas também as narinas abertas, os ouvidos atentos, os sentidos despertos para o que enxergo na face jovem de uma urbe sempre aberta ao novo, cosmopolita e inquieta, convidando-me para a festa da vida. Por isso celebro, brindo, bailo. Tenho o frescor do campus em meus modos, a avidez universitária do saber. Recebo, faceiro e agradecido, convite do conhecimento, as portas do desconhecido a me cortejar. Como eu não quereria viver? Então entro numa boate e não tenho mais voz, não tenho mais planos, não tenho saída.

Rogo a todos os que andaram sobre os paralelepípedos da Rio Branco para me salvar. Quero correr e suplicar socorro a quem me possa acudir. A bênção, Carlos Scliar. A bênção, Raul Bopp. A bênção, velho Cezimbra Jacques, meu Prado Veppo, a bênção Felippe d’Oliveira. Iberê Camargo, tu que estudaste no Liceu de Artes e Ofícios, ali bem perto de onde a primeira faísca espocou, a bênção. A bênção, todos os artistas e poetas da Boca do Monte. Precisamos de vocês para explicar o sentido do inexplicável. Vocês, que tiveram tempo para luzir, expliquem-nos: por que temos de findar?

Como posso adormecer, se mal despertei para o mundo? Como posso abdicar, se não brinquei o suficiente, não amei o bastante, deixei incompleto o edifício da minha história? Eu não choro só por mim, e nem meu pranto cai sozinho. Minha cidade é hoje o Brasil em luto. Minha juventude perdida é o meu país, perplexo e tonto, impotente a velar meu corpo. Santa Maria, rogai por nós.
FONTE; Marcelo Canellas / texto publicado hoje em Zero Hora e no Diário de Santa Maria, terra natal do autor.

Aumenta valor de imóveis no entorno da Arena do Grêmio












Incêndio atinge casas em vila próxima à Arena do Grêmio



Bombeiros controlaram as chamas com reforço da Região Metropolitana.
Prefeitura avalia para onde levar moradores que tiveram casas destruídas.

Um incêndio atingiu cerca de 50 casas na Vila Liberdade, na Zona Norte de Porto Alegre, na noite deste domingo (27). O local fica na altura do km 94 da Freeway, próximo à Arena do Grêmio. As chamas foram controladas pelos bombeiros, que tiveram reforço na equipe por soldados da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Pelo menos duas pessoas tiveram ferimentos leves. Um bombeiro também luxou o ombro durante a operação. Não há registro de mortes.
Uma comitiva da Prefeitura integrada por representantes das secretarias municipais e pelo prefeito em exercício, Sebastião Melo, esteve no local para avaliar como abrigar as pessoas que perderam suas casas. O grupo avalia a possibilidade de transferí-las para ginásios da cidade. A segurança será reforçada para evitar saques à vila.
FONTE: G1
Aumenta valor de imóveis no entorno da Arena do Grêmio

Remoção de 16 casas para conclusão da obra de duplicação da Voluntários da Pátria e da Padre Leopoldo Brentano, em Porto Alegre, depende de acordo com moradores

Um dos melhores e mais modernos estádios do Brasil será inaugurado em dezembro de 2012 com obras em andamento no lado de fora. Em fase final, a Arena do Grêmio, no Bairro Humaitá, em Porto Alegre, avança num ritmo oposto às obras de infraestrutura para o acesso à nova casa do Tricolor. A principal delas poderá atrasar por falta de acordo sobre o valor da indenização a proprietários de 16 casas, que precisam ser demolidas para a conclusão do traçado da duplicação da Voluntários da Pátria e da Padre Leopoldo Brentano, implantação de ciclovia e reposicionamento da rede de energia elétrica.

Entusiasmados com a valorização imobiliária da região, donos de residências próximas à esquina das duas vias exigem valores superiores aos que a prefeitura anuncia. A administração pretende oferecer valores que variam de R$ 52.340 (bônus moradia) a até R$ 119 mil. Moradores exigem, no mínimo, R$ 150 mil.

"Em cima da uma mina de ouro"
O vigilante Gladimir Santos, 44 anos, mora numa casa de alvenaria de dois pisos com 90 metros quadrados. Só deixará o local se receber uma indenização que dê para comprar um imóvel no Humaitá.

Em junho, o Diário Gaúcho mostrou os reflexos da supervalorização no bairro. Uma casa que custava R$ 85 mil há três anos, na época já não saía por menos de R$ 400 mil.

"Estamos em cima de uma mina de ouro. Se não fizerem uma proposta boa, vão ter de passar por cima da minha casa comigo dentro", disse o vigilante.

Mediação do MP
Decididos a não se desfazer dos imóveis por valores que consideram inferiores às suas pretensões, representantes dos moradores procuraram o Ministério Público para mediar um acordo entre as partes. O grupo também solicitou ajuda da Secretaria de Habitação e Saneamento do Estado, pasta responsável pela área da extinta Cohab, repassada à prefeitura.

Mário Oliveira Amaral, 53 anos, e a esposa Neiva Moraes Amaral, 49 anos, afirmam que têm garantia do Estado para permanecerem na área. O promotor de Justiça Luciano Brasil solicitou informações à Secretaria para confirmar a informação, mas ainda não obteve retorno.

Moradores irredutíveis
"Com R$ 52 mil não se compra nem um terreno aqui", justifica Neiva.

A vizinha Eleci Maria de Oliveira, 53 anos, diz que não arredará os pés dali. "Não vou sair sem pagarem o que quero", garantiu.

Área é pública, diz prefeitura
Segundo a prefeitura, as casas estão numa área pública, que pertencia ao Estado e foi repassada ao município. Responsável pela coordenação de recursos e financiamentos da Secretaria de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Geraldo Luís Felipe, acredita que a negociação será bem sucedida: "O corpo técnico da Secretaria está fazendo a avaliação das benfeitorias feitas em cima do terreno, que é público, para indenizar as famílias de forma adequada."

FONTE: CLICRBS / Revista Pense Imoveis

DOCENTES DA UFSM LAMENTAM A PERDA DE ALUNOS








Mais de 100 estudantes da universidade estão entre as vítimas

Momento de profunda tristeza tem sido marcado por solidariedade e afeto

Entre as mais de 230 pessoas vitimadas no incêndio ocorrido na boate Kiss em Santa Maria, na madrugada de sábado (26/1), estão 101 alunos da Universidade Federal de Santa Maria, principalmente dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Pedagogia, Tecnologia em Alimentos, Tecnologia em Agronegócio e Zootecnia. Mas em função da possibilidade de alguns nomes terem sido escritos na lista com grafia incorreta, pode haver mais estudantes da UFSM.

Entre a comunidade acadêmica o sentimento é de profunda tristeza, mas também de solidariedade e carinho com os familiares das vítimas e com os pacientes que seguem internados em hospitais. “Essa é a maior tragédia que a universidade já viveu. E é pior quando afeta nossa maior defesa, nosso capital humano, que são os estudantes. Estamos consternados. Agora é o momento de dar suporte para as famílias, para nossos docentes e técnico-administrativos em educação, mas, principalmente, para os nossos alunos que permanecem. Cada um vai ter uma perda, uma história para contar, e teremos que ter capacidade para assimilar todo esse processo. O retorno nunca será normal. Esperamos que essa tragédia possa servir como um marco para que nossos jovens tenham melhores condições de diversão”, declarou o Reitor da UFSM, Felipe Muller.

Igualmente consternada, a diretoria da Seção Sindical dos Docentes da UFSM, se solidariza na dor de pais, familiares, amigos e comunidade acadêmica. “Dói o peito, pois sempre imaginamos que os filhos é que enterrarão os pais, mas o destino nos choca, nos surpreende. Os pais, como em uma guerra, voltaram a enterrar seus filhos. A morte é muito mais dolorosa quando é inesperada, nunca a esperamos de onde transborda a vida, da juventude. Existe uma ferida aberta que sangra e sangrará por muito tempo... um dia ficará uma cicatriz que nunca poderemos eliminar... Não estamos acostumados a perdas, principalmente de jovens que se iniciam na vida, com um futuro inestimável pela frente para eles, suas famílias e a sociedade. A triste lição é que devemos transformar essa sociedade e que nossa juventude possa buscar na cultura seu aprendizado e que a diversão seja a constante busca pelo conhecimento”, lamentou o presidente da Sedufsm e diretor do Andes-SN, Rondon de Castro.

No Centro de Ciências Rurais, um dos que reúne o maior número de alunos mortos na tragédia, o sentimento é de união para o seguimento das atividades a partir da próxima semana. “Perdemos alunos em muitos cursos do CCR. Em um primeiro momento a universidade se uniu para prestar apoio e informações à polícia para identificação dos estudantes, inclusive com dados do Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DERCA). É também um momento de tentar dar consolo as famílias e apoiar os hospitalizados. É uma situação bastante difícil, todo Centro está bem sentido, o impacto foi muito forte. A partir de agora vamos trabalhar com ainda mais qualidade em homenagem a esses alunos. Fica um vazio, alguns pais perderam filhos únicos e outros, até mesmo irmãos. Mas precisamos manter a cabeça erguida, temos que continuar dando assistência aos doentes, auxiliando em transferências, enfim, prestando assessoria no que for necessário”, disse o diretor do Centro de Ciências Rurais da UFSM, Thomé Lovato.

O diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas, Rogério Koff, que também teve alunos vitimados, diz que espera respostas das investigações. “Nos só temos a lamentar a proporção de uma tragédia dessa natureza. Grande parte das vítimas eram da nossa instituição. O que nos resta é levar adiante, tentando dar apoio aos pais e familiares. E, numa segunda etapa, o que esperamos das autoridades é uma investigação e uma cobrança de responsabilidade sobre o que aconteceu”.

Adriele Manjabosco, membro da coordenação geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), fala em união. “Sabemos que nessas horas nos faltam palavras, foram muitos estudantes, muitos jovens cheios de sonhos vítimas de uma das maiores tragédias da história. Desejamos aos familiares e amigos muita força neste momento difícil, agora é hora de todos darmos as mãos, estudantes, professores, familiares e amigos”.

Nesta segunda-feira (28/1), a UFSM anunciou que irá prorrogar a suspensão das aulas até o dia 1º de fevereiro, no intuito de propiciar um período de reflexão e atividades voltadas ao amparo e solidariedade às famílias.

FONTE: SEDUFSM

domingo, janeiro 27, 2013

A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS


Fabrício Carpinejar

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. 

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. 

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. 

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. 

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. 

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. 

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. 

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. 

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? 

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista. 

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. 

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. 

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.

Nota de solidariedade do PSTU aos familiares e amigos das vítimas do incêndio da boate de Santa Maria (RS)


É com pesar que, nesta manhã de domingo, 27 de janeiro de 2013, a população gaúcha e brasileira recebe a notícia da morte de, pelo menos, 245 pessoas, a maioria estudantes universitários, e mais de 48 feridos em um incêndio numa boate de Santa Maria (RS). 

Primeiramente, gostaríamos de prestar nossa total solidariedade aos familiares e amigos das vítimas. O fato, que já é a maior tragédia da história do Rio Grande do Sul, deixa marcas na vida de uma cidade que tem como seu centro a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e reconhecida “cidade universitária”. 

Frente à tamanha comoção nacional e até mesmo internacional, não restam dúvidas de que esta tragédia de tamanha magnitude poderia ter sido evitada. A responsabilidade por esta tragédia recai de imediato sobre os ombros do dono da boate “KISS” e daqueles que seriam os responsáveis por fiscalizar os estabelecimentos da cidade: o prefeito Cezar Schirmer (PMDB) e o Estado do Rio Grande do Sul. No local do evento não havia respeito às normas mínimas necessárias de segurança para que pudessem receber tamanha quantidade de pessoas. 

As cenas, que repetidamente são transmitidas pelas emissoras de televisão nesta manhã de domingo, configuram um verdadeiro caos, e um desespero daqueles que esperaram por mais de horas por socorro e não o tiveram. 

Aqueles que poderiam evitar um desastre de tais proporções não tem agora o direito de somente pronunciar-se e lamentar pelo ocorrido. Neste momento, além de total solidariedade à família e aos amigos das vítimas, exigimos que o Governo Federal e estadual apurem os fatos e punam os responsáveis pela tragédia. 

O direito à diversão e a cultura deve ser garantido de forma segura e também pública, não podemos admitir que a morte de jovens e trabalhadores nesta madrugada do dia 27 de janeiro seja apenas mais um fato. Que a ganância daqueles que tem como único objetivo garantir maior lucro não seja feita sobre a vida de inocentes que só desejam divertir-se em uma final de semana, e nem mesmo sobre a dor de pais e mães. 

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – Rio Grande do Sul

Lincoln de Spielberg, Karl Marx e a Segunda Revolução Americana


"Lincoln" de Steven Spielberg transcorre em único mas crucial mês da Guerra Civil dos EUA, um conflito equivalente a uma segunda revolução americana. Em janeiro de 1865, quando faltavam poucos meses para a vitória da União sobre a Confederação, o presidente Abraham Lincoln decidiu fazer aprovar a Decima Terceira Emenda à Constituição dos EUA, para a abolição da escravatura sem condições e sem indenização aos proprietários de escravos. 

Por Kevin Anderson

 "Lincoln" de Steven Spielberg transcorre em único, mas crucial mês da Guerra Civil dos EUA, um conflito equivalente a uma segunda revolução americana. Em janeiro de 1865, quando faltavam poucos meses para a vitória da União sobre a Confederação, o presidente Abraham Lincoln decidiu fazer aprovar a Decima Terceira Emenda à Constituição dos EUA, para a abolição da escravatura sem condições e sem indenização aos proprietários de escravos. Por Kevin Anderson.

É um Lincoln muito diferente do candidato de 1860, que se negou a fazer campanha como abolicionista, ou do presidente que adiou a Proclamação da Emancipação quase até o terceiro ano da Guerra Civil, em 1863. Se trata de um Lincoln que cresceu com os tempos, cujo exército agora inclui 200.000 soldados negros, e cujos discursos começam a insinuar direitos de what is a aaa credit rating cidadania e voto para os antigos escravos.

América revolucionária
Com um roteiro escrito pelo destacado roteirista de esquerda Tony Kushner (Angels in America, Homebody / Kabul), o filme de Spielberg está centrado não apenas no próprio Lincoln, mas também na figura sem dúvida revolucionária, do abolicionista radical Thaddeus Stevens, com quem Lincoln se aliou naqueles fatídicos dias de janeiro de 1865. Algumas das cenas mais dramáticas retratam os debates cruzados de Stevens com o congressista de Nova York e racista doentio Fernando Wood, líder da ala anti-abolicionista do Congresso.

Em outra cena, Stevens apresenta um cético Lincoln e o programa republicano radical de uma prolongada ocupação militar do sul, durante a qual os antigos escravos alcançariam plenos direitos políticos, incluindo o de serem eleitos aos mais altos cargos públicos, e as fazendas dos antigos proprietários de escravos seriam confiscadas e divididas entre os antigos escravos (os famosos "40 acres e uma mula"). Tudo nisso narrado cinematograficamente graças à excelente interpretação de Daniel Day Lewis (Lincoln) y, mais ainda, de Tommie Lee Jones (Stevens), com uma contribuição também importante de Sally Field (Mary Todd Lincoln).

Ao mesmo tempo, está presente o lado sórdido da democracia dos EUA, em meio destas mudanças revolucionárias, mediante a corrupta política de clientelismo usada para obter os últimos votos para aprovar a emenda e envia-la aos estados para sua ratificação final.

Em seu conjunto, "Lincoln", oferece uma perspectiva antiescravista e antirracista da Guerra Civil dos EUA mais consequente que a habitual nos filmes de Hollywood. Evita o típico retrato de Hollywood do Sul como moralmente equivalente, se não superior, ao Norte. Por outro lado, o filme se centra na escravidão e no racismo como o tema central da Guerra Civil, ao mostrar favoravelmente um líder revolucionário como Stevens, o que não é usual. Mais ainda, o fraudulento argumento do Sul sobre os "direitos dos estados" é desmascarado, mostrando seu verdadeiro conteúdo: o “direito” dos brancos a escravizar milhões de seus semelhantes.

Dimensões econômicas e de classe da abolição
Alguns setores da esquerda criticaram o filme por não por de auto in insurance online quote relevo a luta pela auto-emancipação dos afroamericanos, como por exemplo no filme "Glória" (1989), que narra a história dos soldados afro-americanos do 54º regimento de Massachusetts.

Embora essas críticas sejam válidas e importantes, gostaria de centrar-me em outros dois temas que o filme não aborda: a importância econômica da escravidão e sua abolição, e a troca de correspondência entre Karl Marx e Abraham Lincoln, que se deu durante o mesmo mês de janeiro de 1865, no qual se desenvolve o filme. Ambos os temas poderiam facilmente ter sido incorporados ao roteiro sem alterar o ângulo a partir do qual o filme narra estes acontecimentos históricos transcendentais, e o do confronto entre elites políticas em lugar das massas mobilizadas. Certamente as primeiras influem nas segundas, e vice-versa, mas tento fazer uma crítica imanente, que aborde o filme em seus próprios termos e examine algumas das contradições que surgem.

A Proclamação de Emancipação de 1863 e a décima terceira emenda de 1865, que tornou permanente a guerra de 1863, eram diferentes das leis de emancipação promulgadas em outros estados. Por exemplo, a política de emancipação dos EUA proibia qualquer compensação econômica aos antigos proprietários de escravos. Diferenciava-se assim inclusive da pioneira Lei de abolição da escravatura britânica de 1833, que previu grandes somas de indenização. Neste sentido, foi mais parecida com a abolição jacobina de 1794 na França, anulada por Napoleão uma década depois, mas que ajudou a desencadear a revolução haitiana.

Por outro lado, a escravatura era mais importante para a economia dos EUA do que para a Grã Bretanha ou a França. Os quase quatro milhões de escravos que existiam nos EUA em 1860 constituíam ao redor de 13% da população e sofriam uma forma totalmente desumanizada de capitalismo que permitia comprar e vender seres humanos como escravos. A um preço médio 500 dólares cada, a “propriedade” humana dos escravistas nos EUA tinha um valor aproximado de dois bilhões de dólares, uma soma astronômica na década de 1860. Portanto, a abolição da escravatura sem indenização nos EUA constituiu a maior expropriação de propriedade privada capitalista até a revolução russa de 1917. Com uma penada se pôs fim a toda uma classe social, os donos dos latifúndios do Sul, que há séculos ergueram uma imensa acumulação de riqueza derivada da produção de açúcar, tabaco, algodão e outras matérias primas, além da compra e venda de outra mercadoria, os próprios escravos.

A abolição também incorporou milhões de trabalhadores formalmente livres à classe operária nos EUA, aumentando a possibilidade de uma unidade de classe que ultrapassasse as divisões raciais e étnicas, muito mais fácil depois que o trabalho escravo deixou de coexistir com o trabalho formalmente livre. Embora apenas uma pequena parte dessa unidade inter-racial tenha sido alcançada no pós-guerra, e apenas brevemente, sua necessidade segue ainda na agenda, na medida em que, hoje, a classe operária dos EUA está cada vez mais integrada por pessoas de cor, sobretudo afroamericanos e latinos.

Embora o filme passe por alto estas realidades econômicas e de classe, a favor da dimensão política, elas não escaparam a Karl Marx. Em uma carta de 29 de novembro de 1864, poucas semanas depois da fundação da Primeira Internacional (Associação Internacional de Trabalhadores), escreveu, "faz três anos e meio, no momento da eleição de Lincoln, a questão era não fazer mais concessões aos proprietários de escravos, mas agora a abolição da escravidão é o objetivo declarado e em parte já realizado”, e acrescentou que "nunca uma convulsão tão gigantesca teve lugar tão rapidamente. Terá um efeito benéfico no mundo inteiro" (Saul Padover, ed, Karl Marx sobre América e a Guerra Civil, Nova York: McGraw-Hill, 1972).

A carta aberta de Marx a Lincoln
Como foi mencionado atrás, no mês de janeiro de 1865, quando Lincoln virou para a esquerda, aliando-se com Stevens, foi também o mês em que Marx e Lincoln tiveram seu intercâmbio público de correspondência. Depois da publicação do "Discurso Inaugural" da Primeira Internacional (escrito por Marx) e suas “Regras gerais” de filiação, ambos em novembro de 1864, sua declaração pública seguinte foi uma carta aberta de parabéns a Lincoln por sua vitória aplastante na eleição de novembro de 1864. A carta a Lincoln foi redigida por Marx e também assinada por um grande grupo de ativistas operários e south yarmouth payday loan socialistas que incluía "Karl Marx, secretário de correspondência para Alemanha".

Nesse momento, a embaixada dos EUA em Londres estava encabeçada por Charles Francis Adams, um abolicionista de Massachusetts, membro de uma das mais ilustres famílias políticas de Estados Unidos. Adams conhecia sem dúvida alguns dos envolvidos com a Internacional, porque havia enviado seu filho Henry para observar e informa-lo sobre as reuniões que os trabalhadores britânicos organizavam desde 1862 para contrapor-se aos chamados dos políticos britânicos dos principais meios de comunicação a favor da intervenção em favor do Sul. Nessas reuniões intervinham muitos dos futuros líderes da Internacional. A presença do endinheirado jovem Henry Adams nessas reuniões seguramente se fez visível entre os trabalhadores que participavam delas. Além de recolher informações, a presença do filho do embaixador também pode ter o objetivo de fazer um chamamento direto à classe operária britânica, sem contar com seu governo.

Em dezembro de 1864, a Internacional propôs que uma delegação operária de 40 membros entregasse a carta e fosse recebida pela Embaixada. Embora o embaixador Adams tenha declinado da proposta, a carta da Internacional "Dirigida ao presidente Lincoln" foi entregue na Embaixada, e publicada em vários jornais ligados ao movimento operário britânico. Dizia em parte:
"Felicitamos ao povo americano por sua eleição por uma ampla maioria. Se a resistência ao poder escravista foi a principal consigna de sua primeira eleição, o triunfante grito de guerra de sua reeleição é: ¡morte à escravatura!". (Esta carta, a resposta de Lincoln, e outros textos relacionados foram recolhidos em Robin Blackburn, Uma revolução inconclusa: Karl Marx e Abraham Lincoln, Londres: Verso, 2011). E continuava: "Desde o começo da titânica luta americana, os operários da Europa sentiram instintivamente que a bandeira das faixas e estrelas é portadora do destino de sua classe".

Esta frase se referia não só aos profundos sentimentos antiescravistas das classes trabalhadoras britânicas da época, e as reuniões de massas que haviam organizado em apoio ao Norte, inclusive quando os principais políticos e publicações defendiam o apoio a uma intervenção britânica para romper o bloqueio de Lincoln aos portos do Sul, o algodão voltar a fluir através dos mares, pondo um fim ao desemprego em massa causado pelo bloqueio. A frase sobre o vínculo entre o destino dos EUA e o das classes trabalhadoras da Europa se baseava também em um fato indiscutível. A classe operária da Grã Bretanha (e mais ainda no Continente) não tinha direito de voto, que era censitário e limitado aos proprietários, e via nos EUA a única experiência importante de democracia política da época. O resultado foi um dos melhores exemplos jamais vistos de internacionalismo proletario.

Como Marx observou durante estas mobilizações dos trabalhadores britânicos no começo da guerra: "o verdadeiro povo da Inglaterra, França, Alemanha, da Europa, considera a causa dos Estados Unidos como sua própria causa, a causa da liberdade, e, apesar de todos os sofismas pagos, consideram a terra dos Estados Unidos como terra livre a disposição dos milhões de camponeses sem terra da Europa, sua terra prometida, que é preciso defender agora de espada na mão contra as sórdidas garras escravistas ... Os povos da Europa sabem que a escravocracia do Sul começou a guerra com a declaração de que a continuidade da escravocracia já não era compatível com a continuidade da União. Portanto, os povos da Europa sabem que a luta pela sobrevivência da União é uma luta contra a continuação da escravidão - que nesse contexto, a mais alta forma de autogoverno popular conseguida até hoje está lutando contra a mais desprezível e mais desavergonhada forma de escravidão do homem nos anais da história (Marx, “El Times de Londres y lord Palmerston”, New York Tribune, 21 de outubro de 1861).

A carta de Marx a Lincoln em nome da Internacional também afirmava: "Enquanto os trabalhadores, o verdadeiro poder político do Norte, permitiram que a escravidão profanasse sua própria república, enquanto ante o negro dominado e vendido sem seu consentimento, presumiram que a maior prerrogativa do trabalhador de pele branca era vender-se e escolher seu próprio dono que la , não foram capazes de alcançar a verdadeira liberdade do trabalho, nem de apoiar a seus irmãos europeus em sua luta pela emancipação, mas esta barreira ao progresso foi varrida pelo mar vermelho da guerra civil ".

A resposta pública de Lincoln a Marx
Em 28 de janeiro de 1865, para surpresa e deleite de Marx e de outros membros da Internacional, a Embaixada dos EUA emitiu uma resposta pública do Embaixador Adams para a Internacional. Em uma carta a Engels, em 10 de fevereiro, um satisfeito Marx nota que Lincoln havia escolhido dirigir sua importante resposta não aos liberais britânicos que o adulavam, mas à classe operária e aos socialistas: "O fato de que Lincoln nos respondesse com tanta cortesia e que à "Sociedade pela Emancipação Burguesa” tenha feito de maneira brusca e puramente formal indignou ao The Daily News de tal maneira que não publicou a que nos havia... La diferença entre as resposta de Lincoln para nós e para a burguesia provocou tal sensação aqui que os “clubs” de West End movem incrédulos a cabeça.

Pode compreender o gratificante que isso foi para nossa gente".

Embora a resposta para a Internacional tenha sido assinada pelo embaixador Adams, deixou muito claro que Lincoln havia lido sua carta e que Adams falava no nome do presidente, e não no seu apenas.: "Fui instruído para informar-lhe que o Discurso inaugural do Conselho Central da Associação foi devidamente transmitido através desta Legação ao Presidente dos Estados Unidos, e este o recebeu".

Tendo em conta os acontecimentos de janeiro de 1865 narrados no filme, quando Lincoln estava em meio à coleta de votos para Decima Terceira Emenda, é ainda mais notável que tivesse tempo para redigir semelhante resposta. E por uma confluência estranha e comovedora de acontecimentos, a resposta de Lincoln para a Internacional fosse feita publica apenas três dias antes da superação, pela Camara de Representantes dos EUA, dos obstáculos de numerosos políticos racistas e votasse, em 31 de janeiro, a ratificação da Emenda, e a enviasse aos Estados para sua ratificação final.

A resposta de Lincoln também se refere a nível geral aos "amigos da humanidade e ao progresso em todo o mundo" com quem os EUA contavam, uma alusão à forma pela qual as assembleias dos trabalhadores britânicos, que não tinham direito de voto devido aos requisitos de propriedade, haviam sido cruciais na hora de impedir as manobras britânicas para intervir a favor do Sul durante os primeiros anos da guerra. Esta sugestão é mais evidente na última frase, onde afirma que o governo dos EUA foi capaz de tirar “novos ânimos para perseverar graças ao testemunho dos operários da Europa, de que essa atitude nacional se viu favorecida com sua aprovação ilustrada e suas ardentes simpatias".

É difícil recordar outro momento em que o governo dos EUA tenha agradecido publicamente à classe operária internacional seu apoio, e muito menos a uma organização de trabalhdores dirigida por socialistas.

As revoluções inconclusas: 1860 e 1960
Este intercâmbio entre Marx e Lincoln ilustra de forma dramática o fato de que a Guerra Civil foi uma segunda revolução americana, muito mais radical que a primeira, em 1776. Foi sem dúvida uma revolução burguesa e não socialista, mas a defesa por sua ala esquerda - que acabou não tendo êxito - da necessidade de uma transformação fundamental na propriedade da terra, no Sul, apontava a algo ainda mais radical. Este caráter inconcluso da revolução, que se deteve na emancipação politica dos antigos escravos, e que logo, depois 1876, inclusive em grande parte ficou sem validez, é algo que ainda pesa sobre os Estados Unidos da América até nossos dias.

Em um inquietante paralelismo, a revolução pelos direitos civis nas décadas de 1950 e 1960, que finalmente conseguiram sobre uma base mais permanente o que havia sido estabelecido muito brevemente através das leis e das emendas constitucionais nas décadas de 1860 e 1870, também se viu obrigada pelas circunstâncias a parar antes da emancipação política.

Isso nos deixa hoje com o resultado paradoxo de que os EUA têm seu primeiro presidente afro-americano e, ao mesmo tempo, têm também mais homens e mulheres afroamericanos do que nunca em sua historia que se consomem quase esquecidos no mundo desumanizado das prisões e cárceres nos Estados Unidos.

O filme "Lincoln", que também não trata destes temas, está em muitos aspectos também sem terminar. Inclusive em seus próprios termos, vendo a história a partir de um ângulo que destaca os acontecimentos protagonizados pela elite política em vez de pelas massas que as pressionavam, não leva até o final suas próprias implicações mais radicais, como por exemplo em seu retrato do programa republicano radical de Stevens. Mas é um sinal dos tempos, das transformações profundas da sociedade e da cultura dos EUA, que um filme comercial de Hollywood revele inclusive uma parte desta página da história revolucionária, que, como assinalou Marx, teve efeitos "em todo o mundo".

(*) Professor de sociologia e ciências políticas na Universidade da Califórnia, e autor de nw washington payday loan Marx at the Margins: On Nationalism, Ethnicity, and Non-Western Societies (University of Chicago Press, 2010). Tradução: José Carlos Ruy

Fonte:DIÁRIO LIBERDADE

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sábado, janeiro 26, 2013

Sob Lula e Dilma, governo deu R$ 57 mi à UNE


Nos últimos nove anos –oito de Lula e um de Dilma Rousseff—, a União Nacional dos Estudantes, comandada por filiados do governista PCdoB, recebeu do Tesouro Nacional R$ 57,4 milhões.
Coube a Dilma Rousseff autorizar a última liberação, de R$ 14,6 milhões. Deu-se um dia depois do Natal, em 26 de dezembro de 2011. Foi um complemento de verba.
A primeira parcela, de R$ 30 milhões, havia descido às arcas da UNE no apagar das luzes do governo Lula, em dezembro de 2010. Juntos, os dois repasses somam R$ 44,6 milhões.
O dinheiro destina-se à construção da nova sede da UNE, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Um prédio de 13 andares. Projeto do arquiteto Oscar Niemeyer.
A pedra fundamental foi lançada em cerimônia com a presença de Lula, em 20 de dezembro de 2010. Borrifada com a primeira parcela de R$ 30 milhões, depositada três dias antes, a obra deveria ter começado no primeiro semestre de 2011. Seria concluída em 2013. Por ora, nada.
Embora nenhum tijolo tenha sido assentado no terreno, Dilma  autorizou o pagamento da segunda parcela. A exemplo do primeiro montante, os novos R$ 14,6 milhões sairão do orçamento do Ministério da Justiça (Comissão de Anistia).
Os recursos para o prédio decorrem de uma indenização. Proposta por Lula em 2008, foi convertida em lei (12.260) pelo Congresso em 2010. Autorizou-se o Estado a reparar a UNE pela destruição de sua sede. Um grupo de trabalho estipulou os valores.
O imóvel fora metralhado, invadido e incendiado por soldados em 1º de abril de 1964, nas pegadas do golpe militar. Em 1981, ainda sob o regime dos generais, demoliu-se o que restara da edificação.
Afora as verbas da indenização, a UNE recebeu do governo, nos dois reinados de Lula, R$ 12,8 milhões. Dinheiro proveniente de convênios firmados com ministérios. Sob FHC, a entidade recebera apenas R$ 1,1 milhão.
Dilma teve de fazer uma ginástica financeira para honrar o compromisso que Lula assumira com a UNE. O presente natalino de 2011 veio na forma de um “crédito especial”.
O Planalto enviou ao Legislativo pedido para reprogramar o Orçamento da União em R$ 199,8 milhões. Saíram dessa cifra os R$ 14,6 bilhões destinados à UNE. O resto foi para a pasta da Defesa.
Aprovado pelos congressistas, o “crédito especial” subiu ao Planalto. Sancionado por Dilma virou lei (12.567). Foi impressa no ‘Diário Oficial’ em 27 de dezembro de 2011, um dia depois de assinada pela presidente e pela ministra Miriam Belchior (Planejamento).
Em entrevista pendurada no portal da UNE, o presidente da entidade, Daniel Iliescu, incluiu a construção da nova sede entre as prioridades de 2012: “Começaremos as obras da nova sede e do novo centro cultural na Praia do Flamengo”, prometeu. Dinheiro não falta.
Instado a avaliar o primeiro ano de Dilma, Daniel Iliescu assoprou: “Achamos válida a sua postura de manter o diálogo com os movimentos sociais, escutar as suas reivindicações…” Depois, mordeu. De leve:
“Não estamos satisfeitos ainda com atual disposição de prioridades do governo. O Orçamento da União destina todo ano cerca de 3% para a educação e cerca de 50% para pagar a dívida pública e remunerar o capital financeiro.”
Em seguida, novo assopro: “O governo se apresenta com uma tônica importante, que é eliminar a miséria, reduzir essa desigualdade social que ainda vigora no país…” Na sequência, nova mordiscada:
“Mas, na nossa opinião, esse processo não será possível sem maiores investimentos na escola pública, no salário dos professores, em todos os níveis da educação. Também não acabaremos com a miséria com a permanência da atual política econômica, que impede o pleno desenvolvimento do Brasil.”
Disse que “medidas mais ousadas precisam ser tomadas para o Brasil avançar e se desenvolver.” Algo que só virá “na base da pressão dos movimentos por mudanças profundas na política econômica, fiscal, cambial e monetária do Brasil.”
Acrescentou: “Ainda aguardamos esses avanços e vamos protestar muito por eles.” Nenhuma palavra sobre corrupção. Nada sobre a queda de seis ministros por suspeitas de “malfeitos”, para usar a expressão de que gosta de Dilma.
Não é difícil entender o porquê da generosidade retórica insinuada no morde-e-assopra do presidente da UNE. Militante do PCdoB, Daniel Iliescu foi guindado ao comando da entidade há seis meses.
Sua eleição ocorreu num Congresso realizado em Goiânia. Já no usufruto da ex-presidência, Lula compareceu ao evento, patrocinado por empresas estatais. Coisa de R$ 3 milhões. Uma cifra que, adicionada às verbas que vieram do Tesouro, eleva para R$ 60 milhões a compensação financeira pelo bom comportamento da UNE.
FONTE: Josias de Souza.blogosfera.uol

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Carta aos Sócios do Clube de Regatas do Flamengo


Caro Sócio,

Nossa equipe está completando os primeiros 20 dias de gestão. Estes dias têm sido de muito trabalho, mas também de muitas alegrias em ver que poderemos, juntos , realizar muitas coisas positivas para o Flamengo.

Como, neste período, a imprensa deu muito destaque para a situação financeira de nosso Clube, achamos importante levar a você o que já pudemos levantar de informações e as providências que tomamos até agora.

Infelizmente as notícias publicadas refletem bem a realidade econômica do clube. Realmente existem muitas dívidas não pagas com fornecedores, bancos, profissionais, funcionários e com diferentes esferas do governo. Dívidas estas que tiveram seus pagamentos postergados, mesmo após várias negociações feitas e depois não cumpridas.

Como resultado disto, temos hoje a acumulação e a majoração destes valores, bem como a incidência de uma série de penhoras que dificultam, em muito, o já combalido fluxo de caixa do Flamengo e o recebimento das novas receitas que temos negociado.

Um dos casos mais emblemáticos, ao nosso ver, foi o do não recolhimento à Receita, nos últimos anos, do imposto de renda retido de nossos funcionários.

Para melhor entender a situação financeira e nos permitir agir de forma mais assertiva e transparente, contratamos o serviço de auditoria da empresa Ernest & Young, que fechará seu relatório em mais 90 dias e será objeto de apresentação clara e didática para a Nação Rubro Negra.

Apesar deste quadro problemático, sabemos do enorme potencial de nosso Clube para reverter esta situação. Para isto, estamos trabalhando duramente nas renegociações das dívidas e no aumento das receitas.

Nestes 20 dias, já tivemos várias reuniões com a Fazenda Nacional, órgãos governamentais e fornecedores, entre outros. Além disto, estamos redimensionando toda a estrutura funcional de nosso Clube para termos mais eficiência e qualidade no trabalho que fazemos internamente.

Na parte relacionada à obtenção de receitas, estamos trabalhando tanto para fechar os grandes contratos comerciais e de patrocínios (como foram os casos Adidas e Peugeot ) e na elaboração de um forte programa de sócio torcedor, quanto para obter um somatório de pequenas receitas que eram de direito do Clube e não vinham sendo cobradas ou estavam mal dimensionadas (como licensing e contratos de locação de espaços). Vale observar que, neste momento, toda a receita que entra - desde o maior contrato até uma simples mensalidade - é importantíssima.

Dentro deste conceito, pedimos para você, que sempre esteve junto com o Flamengo: continue com seu apoio, pagando sua mensalidade em dia, comprando os nossos produtos oficiais e participando da vida social e da preservação do Clube. Somente com a sua participação é que poderemos fazer os investimentos necessários para a melhoria de nossa sede social, no fortalecimento do futebol e em todos os esportes olímpicos.

A família rubro-negra merece nosso Flamengo forte e respeitado. Vamos juntos remar numa só direção.

Um grande abraço e que 2013 seja um grande ano para todos nós.

Eduardo Bandeira de Mello
PRESIDENTE

FONTE:Site Oficial do Clube