Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

quinta-feira, maio 08, 2014

Jair Rodrigues, em entrevista, fala de tudo um pouco












“Eu não estou fazendo nada, você também…”, é um pedacinho da canção Deixa Isso Pra Lá, sucesso dos anos 60, criado por Jair Rodrigues. A canção e seu compositor são conhecidos como percussores do rap no Brasil, e já teve algumas regravações…

Jair Rodrigues de Oliveira, 74 anos, paulista de Igarapava, nasceu em 6 de fevereiro de 1939. Já foi engraxate, alfaiate, servente de pedreiro, faxineiro em cinema. Começou a cantar, profissionalmente, em 1957. É casado com Claudine Rodrigues há 39 anos, com quem tem dois filhos também músicos, Jair de Oliveira e Luciana Mello. Já gravou suas canções ao lado dos filhos ainda pequenos, além de dividir o palco em shows com Alcione, Chitãozinho e Xororó, Daniel, a saudosa Elis Regina, entre outros grandes nomes.

Em conversa com O Fuxico, o ‘Cachorrão’, apelido de Jair, disse que foi sua mãe quem deu a dica de que cantar seria o grande caminho de sua vida. Aliás, ele diz que foi dona Conceição quem lhe deu seu primeiro violão.

O cantor ainda mostrou-se contrário a imitações de cantores e dá um puxãozinho de orelha em Maria Rita, filha de sua grande amiga e parceira musical, Elis Regina:
“A Maria Rita canta muito. Mas entrou na onda de que a voz dela é igual a da mãe. A voz é igual po*** nenhuma. Ela tem que se achar”, orienta.

Confira!

O Fuxico: Como você vê a música brasileira hoje em dia?
Jair Rodrigues: Como sempre. Desde quando comecei, sempre vi a MPB como uma das maiores do mundo e não tem quem me tira isso da ideia. Comigo não tem essa de problema musical. Sempre procurei fazer do modo que sei fazer, sem crise. Aliás, não existe crise nem musical nem de lado nenhum, na minha opinião.

OF: Na época dos festivais a qualidade das músicas era melhor?
JR: Olha o que acontece é que antes dos festivais, quando comecei, ligado em Francisco Alves, o rei da voz, uma das vozes mais lindas que já teve Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Gonzagão, enfim, como exemplos cito estes, era uma coisa bonita de se ver e ouvir, porque todas emissoras de rádio, os clubes e os canais de TV exibiam. De repente, me vi dentro do cenário musical como profissional muitos jovens de 15, 16, 20 anos não conheceram esses nomes que falei. Talvez nem o meu (risos). Onde quero chegar? É que a culpa é do próprio radio que não divulga as músicas boas. Dia desses, cheguei de um show em Natal e um rapaz sentou do meu lado, tinha uns 15 anos, pediu autógrafo e disse: ‘Adoro os três discos de seresta que você fez. Meu pai comprou e estou ouvindo, ele te ama, morre de paixão’. Pena que isso a gente não ouve mais radio tocar. Só toca outras coisas. A época de Festivais foi maravilhosa. Meu primeiro foi em 1965, na extinta TV Excelsior. Participei e naquela vez, quem ganhou foi a saudosa Elis Regina com Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Cantei samba muito bonito. Em 1966, no Festival da Record, aí sim venci com Geraldo Vandré e Téo de Barros, com Disparada, empatando com a banda do Chico Buarque e com Nara Leão. Depois, nos outros que vieram, comecei a não querer participar.

OF: Por quê?
JR: Porque estava virando palhaçada. Virou ‘festivaia’, festival de clack, não sei quem teve ideia de colocar público pra torcer um cantor e vaiar outros. Sempre tem um espirito de porco pra estragar o que é bonito. O último festival aconteceu em São Paulo, e ninguém queria mais ir participar por causa dessas vaias. Até Roberto Carlos foi vaiado em 1967 quando participou. Eu tive um comecinho de vaia também. Em 1970 acabou, começaram os festivais da canção, mas não vingou, pois fizeram a mesma coisa. Ninguém gosta de ser vaiado, gostamos de aplauso. Todo mundo procurava fazer tudo direitinho, mas havia isso por parte de plateia. É sempre assim, no meio dos carneiros sempre tem um lobo.

OF: Quando você descobriu que queria ser músico?
JR: Isso quem descobriu foi minha falecida mãe, dona Conceição, que me deu o primeiro violão que tive nessa vida. Quando eu tinha meus 8 anos de idade, comecei a me ligar. Minha mãe me disse um dia: ‘você canta bonito, se continuar assim vai dar para um bom cantor (risos). Se liga, pois acho que Deus te deu o dom da música, e você sabe que se a pessoa não tiver dom, não vai pra frente. Pode fazer sucesso esporádico, mas não sobe. Chega aos píncaros da glória e depois cai e some de vez, porque não nasceram pra coisa. E olha, tem que se cuidar, ver repertório, coisas bonitas, seguir exemplo de gente que faz coisas boa, ela me dizia. Dos 14 anos em diante, eu me liguei nisso, Antes, queria mesmo era jogar bola. Dos 14 diante cantava, era crooner. Dos meus 6 aos 14 anos vivi em Nova Europa, interior de São Paulo. Depois fui para São Carlos, com 16 anos, me profissionalizei, cantei na noite, organizei meu repertorio.

OF: Daí, sua mãe ficou satisfeita?
JR: Minha mãe ficou feliz da vida. Ela disse ‘uma hora você acontece… ’. No final de 1959, meu irmão mais velho, Jairo, tinha se casado e vim tentar sorte por aqui. Em 1962, tive a oportunidade de gravar meu primeiro disco.

OF: Se você não fosse músico, qual seria sua segunda opção?
JR: Eu ia torcer pra ser músico (gargalhadas). Quando percebi que Deus tinha me dado realmente esse dom, abracei. E se existe um ser que agradeço a todo momento, hora, segundo, da minha vida, é Deus, minha mãe e meu irmão, por toda força e torcida que fizeram.

OF: Quem foram seus padrinhos, quem te deu aquela força pra começar a trilhar o sucesso?
JR: Quem investiu primeiro… Tive meu primeiro empresário, que tocou minha vida. Foi a dupla Venâncio & Corumbá. Eles faziam exatamente o que Caju & Castanha fazem hoje. Eram dois pernambucanos considerados, nos anos 50/60, como os maiores repentistas do Brasil. Cantavam de tudo e, na época, isso se chamava repente. Com a Venâncio & Corumbá Promoções (VEMBA) cantei em quase todos lugares da noite em São Paulo, boates que tinham música ao vivo, eu era um dos grandes da noite na época. Fiz muito sucesso numa boate chamada Asteca, na Praça República (SP), na Rua Araújo. Quando eles fizeram show lá e iam receber, me observavam cantando.

OF: E…?
JR: E daí, numa noite me convidaram para fazer parte do escritório que eles estavam montando. Me deram um cartão do escritório, caso eu quisesse trabalhar com eles. Fui lá e cantava noite em 1962 e tinha um esquema deles. Me levaram para gravar meu primeiro disco pela gravadora Philips, que na época era a melhor. Hoje, temos a Universal como a mais importante. Aliás, todas as gravadoras são importantes. Bom, na Philips tinha Jorge Benjor, Maria Bethânia, Nara Leão e tantos outros. Comecei a fazer parte e ali fui obtendo meus louros, gravando coisas bonitas.

OF: E qual foi o primeiro sucesso?
JR: A primeira música que fez sucesso foi Deixa Isso Pra Lá. Foi o primeiro rap lançado no mundo. Graças Deus, eu sempre fui preocupado em gravar sempre o melhor. Graças a Deus sempre tive um belo repertório. Posso fazer duas horas de show sem cantar música porcaria. Brinco com o público e me divirto cantando e divertindo as pessoas.

OF: O que seria música porcaria?
JR: Músicas fazendo apologia a drogas, ao palavrão, sem pé nem cabeça, sem letra. Esse batidão, besteirão; quando o cara entra e fala palavrão, isso não gosto. Mas como tem quem gosta, não vou falar mal. Eu não gosto, mas não vou meter o pau, tem lugar pra todo mundo. Mas pessoas devem fazer com que não permaneça esse estilo, essa música descartável, isso dura um curto tempo. Conheço artistas de sucesso no mundo todo, mas com esse tipo de música não caminham muito não. Muitos se desesperam e partem para o besteirol, tem noitadas com bebidas, mulherada, tudo pra aparecer. É fácil gravar coisas de qualidade quando se tem o dom da música. Muita gente canta um estilo que dura pouco tempo.

OF: Isso vale também para as imitações?
JR: Detesto que a pessoa venha imitando a outra, eu também já imitei muito cantor, tipo o Agostinho dos Santos. Daí, um cara me chamou e disse: ´menino você canta muito bem, mas se continuar imitando será sempre o outro. Você deve cantar repertório de todo mundo, Frank Sinatra, Johnny Mathis, todos que você cantar, vai se dar bem, mas faça com seu estilo que você vai longe´. Agradeço essa pessoa, que era militante do rádio Tamoio, do Rio de Janeiro, e não me recordo o nome. Mas foi ele que me deu a dica e segui. Deu certo. Por exemplo, a Maria Rita canta muito. Mas entrou na onda de que a voz dela é igual a da mãe. A voz é igual po*** nenhuma. Ela tem que se achar. Imitação não dá certo. Cante de tudo, mas do seu jeito, seja música americana, brasileira enfim, qualquer coisa, mas com seu jeito.

OF: Passou esse ensinamento para seus filhos?
JR: Sim. Sou o maior fã da Luciana. Outro dia ela disse: “Pai escolhe umas músicas pra mim”. Daí peguei os discos da Carmem Miranda, Maysa, Elisete Cardoso, Nara Leão, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Agostinho dos Santos, Dalva de Oliveira, tudo em vinil. Escolhi um repertorio dessas cantoras, emprestei minha vitrola pra ela e mandei ouvir.

OF: É fácil criar uma canção?
JR: Olha, já peguei Chico Buarque, Martinho da Vila, Djavan, Paulinho da Viola, todos que não aparecem mais e, quando a gente liga e pede uma música eles calam, não tem nada novo, não sei o que acontece com eles. Isso faz parte da decadência musical, se se tocassem mais esses nomes nas rádios e se eles criassem coisas novas teriam uma ênfase maior na carreira, seria legal. Não sou compositor, sou interprete, não tenho necessidade de correr atrás de música nova aos 54 anos de carreira.

OF: E como segue com tanto sucesso:
JR: Hoje só permaneço assim, faço cerca de 4 a 5 shows por semana. Graças Deus tudo dá certo e com meus 74 anos de idade, agora sei que é só permanecer assim, que não há problema. A moçada que começa e não é compositor devia se ligar para aparecer mais cantores da nova geração. Um cantor novo gravar Chico Buarque? Caetano? Não vejo isso.

OF: Na época que começou, era bem mais difícil entrar no ramo não era?
JR: Olha, digo que hoje em dia, realmente, é mais difícil. Naquela época o artista era contratado por uma gravadora durante 3 anos. Meus primeiros discos, lançados em 1962, 1963, não tiveram sucesso. Em 1964 sim, veio o sucesso. Também porque a gravadora fazia uma grande divulgação. Hoje não é mais assim, como todas gravadoras estão praticamente falidas, elas não divulgam muito. Os que gravam independente tem que ele mesmo prensar, pagar, ir atrás, levar na rádio, na TV, divulgar. Poucas emissoras tem um quadro musical de qualidade. Nem de péssima nem má qualidade, simplesmente não tem. Os dias de hoje são bem mais difíceis que antigamente. Na época que comecei, o artista tinha a força da gravadora, apresentações em clubes. O artista ganhava dinheiro em show e vendagem de discos. Hoje não tem mais isso. Se o artista não pegar um Eike Batista da vida pra cacifar a carreira, não vai.

OF: E essa história de baixar músicas pela internet, atrapalha?
JR: Atrapalha um pouco, porque ele baixa a música e a gente não recebe nada. Se o artista não fizer show não vai. Antigamente, por telefone ou na própria emissora, o artista recebia cachê ao dar uma entrevista. Até pra divulgar disco em lojas, radio, a própria loja te dava um cachê. Hoje não tem mais isso. Antes, o cantor ganhava de todos os lados. E ainda temos aí a pirataria, que lança o disco todo de um artista e vende a R$ 3 ou R$ 4. Não dá para competir com isso.

OF: O que acha dos atuais reality shows musicais exibidos na TV em busca de novos talentos?
JR: Acho que acaba logo, porque não é uma coisa bem feita. De repente, as emissoras colocam uns caras pra comentar um artista, essas coisas não rolam. Veja, em um show que fiz em Natal, no mês passado, fui convidado pelo Isaac Galvão, que ganhou o segundo lugar no Ídolos Brasil. Ele canta que é uma maravilha, fizemos um baita show em Natal, levei músicos meu, cantei com a banda dele. Ele é bom, venceu o programa. E? Foi só. Depois, apareceu um novo, jogaram esse pra escanteio. O cara, enquanto participa da atração, tá tudo bem, cheio de trabalho. Depois não acontece nada.

OF: Por que acha que isso acontece?
JR: Porque não tem seriedade. Deviam pegar o cara no ar, na TV, pra dar sequência na carreira, não deixar pra lá quando o programa acaba. O próprio artista fica feliz. O próprio Programa Raul Gil (SBT), depois que as pessoas vencem os concursos por lá, ninguém faz nada por estes artistas. Falta isso, o interesse musical verdadeiro. A nossa música é querida fora do País. Eu fui para a Europa e Argentina, já andei por esse mundo de meu Deus e sei quanto é divulgada e querida nossa música lá fora. Precisa é o brasileiro gostar da música brasileira. Aqui, tocam mais músicas estrangeiras. Vamos tocar coisas da nossa música brasileira, fazer nova geração gostar de tudo que é nosso.

OF: Como é ser chamado de pai do rap?
JR: Vi uma parte da imprensa, na época que lancei Deixa Isso Pra lá, que afirmava em todos cantos que eu seria mais um cantor de uma música só. Eu fiz esse povo engolir todas as palavras quando ganhei o festival de 1966 com Disparada. Não tive só prazer na vida, com Deixa isso Pra Lá. Também ouvi que não faria grande sucesso e seria gente passageira. Mas, era um rap que não falava mal de ninguém. Era simples vai, vai, por mim Balanço de amor, é assim mãozinha com mãozinha pra lá beijinhos e beijinhos pra cá… ´, muito bacana, e caiu na boca do povo. E não tem nenhum palavrão nessa música. Esperei o tempo passar e vi a retratação de quem falou mal.

OF: Quem disse que você foi o percussor do rap?
JR: O primeiro a dizer que fui percussor foi Herbert Viana, em 1987, quando participei do Festival de Montreaux, na Suíça. No ônibus, as pessoas começaram a cantar e diziam que era uma música com palavras faladas (risos). O Herbert disse alto, pra todo mundo ouvir: ‘olha, gente, tá sentado aqui do meu lado o sambista, primeiro versador pai do rap, do Jairzinho e da Luciana’. Ele me contou que o rap vem de versar as palavras, não do ritmo. Eu tive a felicidade de criar isso.

OF: Quais os ritmos que gosta? O que gosta de ouvir?
JR: Depende hora. Gosto de tudo! Só não escuto coisas que falam palavrão, ou, às vezes, até escuto para opinar pra mim mesmo. Outro dia fiquei indignado quando vi o que ocorreu com a Rita Lee. Ela sempre cantou coisas boas e, de repente, a vi brigando e xingando policial. Eu disse: ‘Pra quê isso, gente?’. Se gosta de beber ou usar drogas problema teu não passe a ninguém. Infelizmente, a gente vê artistas irem embora por causa disso. Lembrando a voz maravilhosa, que até minha filha e eu comentamos um dia, que era o que estava faltando na música, a Ammy Winehouse, perdeu a vida para as drogas. Isso é triste.

OF: No que você já trabalhou antes do sucesso?
JR: Vixe, minha filha (risos), quando eu era menino, com meus 5, 6 anos, ajudava minha mãe e meu padrasto. Ela casou de novo e meu padrasto me criou. Meu pai era amansador de burro brabo e trabalhava também na roça. Minha mãe era empregada de donos de fazenda e eu ajudava. Também fui engraxate de final de semana. Depois, com 8 pra 9 anos, minha mãe me colocou para ser aprendiz de alfaiate. Quando não costurava nada, trabalhava como servente de pedreiro lavava peças de oficina mecânica e também lavei muito cinema. O dono que apresentava os filmes no cinema me deu o emprego de limpar o cinema. Ganhava cinco mil réis, sendo que minha mãe ficava com três mil e eu com dois mil, para gastar como eu quisesse. Não era como os dias de hoje, que os garotos reclamam de tudo. Deviam levar peteleco na orelha para respeitar o trabalho, desde pequeno. Vejo em novela essa meninada mal criada e penso que não é bom exemplo.

OF: Como foi encarar o trabalho como ator em Super Nada [filme lançado este ano, na mostra Novos Rumos do Festival do Rio].
JR: Olha, em 1968 fiz um filme chamado Jovens pra Frente, último trabalho do saudoso Oscarito, com a cantora Rosemary, eu, Clara Nunes. Depois, nos anos 80 pra 90, fiz papel de pai Jairzinho num filme. Ai, um produtor e diretor do Super Nada me mostrou script, queria que eu fizesse, pois achava que o personagem tinha a minha cara. Participei e recebi, no Festival de Cinema de Gramado, a placa como Melhor Ator Coadjuvante. Agora, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, também falaram muito desse trabalho.

OF: Com isso, você pensa em coordenar uma carreira de ator junto com a de cantor?
JR: Já fui convidado pra fazer outros. Tudo bem, gostei muito, mas meu negócio mesmo é música. Se fosse um musica,l eu faria.  A não ser que fosse também, por exemplo, um filme musical, com muitos artistas, como Gil, Caetano, Gal, esse pessoal que convivi, que começamos juntos, além de artistas de outras áreas e diferentes ritmos, aí sim

F: Agora você prepara o lançamento do Sambão Mesmo, produzido por seu filho, Jair Oliveira. O que podemos esperar deste trabalho?
JR: O Jairzinho me falou, há 5, 6 meses, que eu fui o único artista que, embora cante samba, já gravou de tudo, bossa nova, tango, bolero, música italiana. A coisa mais extraordinária que fiz foram três discos de serestas. Daí, ele queria pegar uma música do Roberto carlos, outra do Gilberto Gil, outra de seresteiros, separar tudo que eu mais gosto para fazer um disco duplo, cantando tudo isso em ritmo de samba, gravar um bolero, um samba canção, tudo em ritmo de samba mais regional, romântico. Escolhemos coisas de Chico Cesar que tem um repertório bacana. Jairzinho entra com flauta, cavaquinho, viola, violão, sopro e com varias coisas de percussão, surdo, pandeiro, reco-reco. Vamos botar pra quebrar (risos). Já entrou com pedido da Lei Rouanet e foi liberado tudo já, só estamos aguardando o Jairzinho terminar de fazer o disco Grandes Pequeninos Vol. 2, para crianças, e daí vamos tocar o projeto.

OF: Você fala outras línguas, como Japonês, Inglês, italiano?
JR: Nada (risos). Falava 100% de Inglês, Espanhol eu falo e entendo, japa não falo, mas entendo. Inglês já esqueci tudo. Nos anos 60, eu tinha um professor de inglês britânico. Agora, não sei falar. Estou até retomando os estudos, caso faça uma viagem para fora, tenho de me ligar.

OF: Como é trabalhar com a família?
JR: É legal pois Jairzinho, quando tinha 5/6 anos, gravou comigo a música Deus Salvador. Eu esquecia a letra e ele me lembrava (risos). A Luciana, com 4 anos, também já tinha voz afinada. O Rildo Hora produziu um disco meu e fomos escolher o repertorio. Ela entrou na segunda estrofe e ele gostou muito da voz grossa e firme dela. Ele fez os arranjos e no dia de gravar ela foi junto. Hoje, todos com voz diferente, mas sempre gostaram músicas, tipo, Emilio Santiago, Jorge Benjor, minhas musicas também. Gravaram minhas músicas já, cada um com seu estilo de voz. Jairzinho foi estudar em Boston, na Berkeley. Aprendeu de tudo, agora fazemos shows juntos, interativos, sempre a Família Rodrigues. É maravilhoso estar no palco com meus filhos. Agora temos vários shows juntos agendados.

OF: Como é o Jair avô?
JR: Por enquanto não curto de perto, pois continuo com muito show. Sei bem que a filha da Luciana, a Nina, de 4 anos, tem o dom como cantora. Já pedi para o Jairzinho ensinar as crianças da família e montar uma banda para as meninas cantarem (risos). Já a Laura, filha do Jairzinho com a Tania Khalil, ainda é pequenininha, não sabe cantar.  bote as duas. Laura ainda não sabe. Nina e Isabella (6 anos, filha de Jairzinho) sabem ler e cantar afinadíssimas. Outra que vai dar o que falar no mundo da música com seu talento é a Rafaela, de 6 anos, filha do Pedro Mariano.

OF: Você e Claudine estão juntos há quantos anos? Como é que se mantém um casamento por tantos anos assim?
JR: Temos 39 anos de amor, respeito, conversação. Brigas sempre ocorrem, mas nunca bate boca, sempre uma discussão dentro do respeito, o que se fala demais, pede desculpa depois. Respeito é tudo.

OF: É verdade que você sabe cozinhar? Onde aprendeu e o que agrada mais a Clo?
JR: Sei cozinhar sim. Aprendi ainda menino, quando ia trabalhar na roça e ia pra escola. Minha mãe dizia: “Vocês vão para a escola e depois aprende fazer arroz, feijão, salada, um ovo, pra levar lá na roça”. Eu só não como chumbo derretido porque desce queimando (risos). Faço rabada, mocotó, tudo. Gosto de inventar, por exemplo, na minha rabada ponho coisas que não tem nada a ver, mas  sempre o que não tem nada a ver mas gosto: pé de frango e moela. Já a Claudine não come carne vermelha, só frango e peixe. Gosta de comida japonesa, mas essa não sei fazer. Então preparo para ela arroz feijão, peixe. Tem nossa Irene lá em casa que faz tudo e muito bem. Agora, uma coisa é certa: a pessoa pode fazer de tudo, mas se não acertar no tempero, estraga tudo.

OF: Você acha que o Brasil tem jeito ainda?
JR: Claro que tem, não são esses vagabundos, ladrões da vida que vão estragar. Tem jeito e tem muita gente torcendo e fazendo para que esse jeito aconteça. Tomara que a bandidagem, que não cuida da educação, da saúde  tome vergonha. Tenho certeza que isso vai acontecer. Nosso País não pode ficar atrás, um País que se tornou o maior do mundo. Só vou embora daqui quando Deus me levar. Vou pegar no pé de quem quer um Brasil podre. O Brasil tem mais coisas boas que ruins.

OF: Como é seu público fora do Brasil? Como te recebem?
JR: Na França tem francês, brasileiro, americano, no Japão também. Mas o país que mais tem pessoas de outras partes do mundo é o Brasil. Sempre sou chamado e sei que sou muito querido em todo lugar que vou, porque sempre levei minha carreira a serio, dou atenção a todos. Se pedem uma música que nem está no repertório daquela apresentação, mesmo assim, atendo e canto. O artista tem que ser assim e assim tenho o respeito de todo mundo. Eu respeito pra ser respeitado. Roupa suja se lava em casa (ri).

OF: O que tira você do sério?
JR: Ah, quando jogo bola, xingo, mando tudo quanto é palavrão (risos). Não gosto de perder, e se o cabra não quer tocar a bola pra mim, solto o palavreado lá. Outra coisa que me irrita é falta de respeito com os outros. As pessoas ficam no trânsito e buzinam para quem passa na frente. Tem ainda os mal educados que ligam o rádio num volume que você é obrigado a ouvir a 2 quilômetros. Falta de respeito!

OF: Alguma coisa te deixa triste?
JR: Coisas que me deixam triste é quando quero comer algo que não dá certo. Daí fico muito tristeu. Tenho uma imagem de Jesus Cristo,que me faz ter um sexto sentido danado. É uma coisa extraordinária!  Se eu penso em ir num lugar e, de repente bate algo estranho, na hora olho para Ele. Se Ele sorrir, eu vou, do contrário, sei que nem tenho de sair de casa.

Fonte: Ará Rocha-O Fuxico

Nenhum comentário: